Descubra as melhores práticas para o plantio e poda de árvores em calçadas, garantindo segurança, beleza urbana e proteção contra pragas.
Alamedas, avenidas e ruas arborizadas deixam as cidades mais alegres e evitam a criação de ilhas de calor. Sombra, conforto ambiental, interceptação da chuva e da radiação solar estão entre os benefícios da vegetação, além de flores, frutos e pássaros. Porém, a definição da espécie e da localização é fundamental para o sucesso do plantio. Sabe-se que, quando mal cuidadas ou não indicadas para o local, podem trazer problemas, como quedas e acidentes. “Cerca de 70% das árvores plantadas em calçadas são exóticas, seguindo uma tendência adotada no passado, pois não existia, na época, um planejamento ao uso de espécies, principalmente de nativas. Atualmente, emprega-se mais nativas regionais”, informa o biólogo André Duarte Puente, presidente da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU).
“A escolha correta deve ser feita conhecendo a morfologia de cada espécie, ou seja, as características de cada árvore, para conciliar o tipo e o local de plantio. Flamboyants (Delonix regia) e figueiras (Ficus benjamina) devem ser plantadas em locais maiores, como praças, em função de as raízes serem mais vigorosas. Espécies com princípios tóxicos devem ser evitadas em calçamentos, e árvores com frutos relativamente grandes não são recomendadas em estacionamentos”, orienta o engenheiro florestal Flávio H. Mendes, mestre em Ciências Florestais.
Outro critério que deve ser considerado, segundo o engenheiro florestal, é a floração. “Os ipês, por exemplo, apresentam floradas entre o final de maio e os meses de agosto e setembro. A floração do roxo ocorre primeiro, depois a do amarelo e, por fim, a do branco, sendo esta a mais efêmera. Com essas três cores é possível criar efeitos paisagísticos lindos.” Ele também faz um alerta para a importância da diversidade das árvores plantadas. “Não é recomendado o plantio de apenas uma ou poucas espécies diferentes nas calçadas, para garantir proteção da população arbórea contra pragas e doenças, evitando que populações inteiras sejam dizimadas, como ocorreu nos EUA, com milhares de olmos-holandeses (Ulmaceae).”
SE ESTA ÁRVORE FOSSE MINHA
Entre os principais problemas no plantio, Mendes lista canteiro pequeno e solo muito compactado. “Antes de plantar uma árvore na calçada de casa, é preciso levar em consideração a profundidade da raiz para não prejudicar o calçamento, a altura que ela poderá atingir, evitando que interfira na fiação, e a firmeza dos galhos”, resume Paulo Figueiredo, consultor técnico de produtos da Husqvarna.
Puente comenta que a muda deve ser sadia, de boa procedência, com porte adequado e seguindo os padrões de tamanho. “Quanto maior a muda, mais rápida será sua adaptação ao espaço.” Muitas cidades possuem viveiros municipais para a produção das mudas, as quais são doadas para o plantio em calçamentos. “A solicitação é feita por meio do Serviço de Informação à População (156), que auxilia na escolha da espécie adequada”, informa Mendes.
As covas devem ser muito bem preparadas, largas e não tão profundas, para que possam receber bem e distribuir as raízes da planta. “Adubação, irrigação e tutoramento são muito importantes nos primeiros meses”, fala o biólogo. Para espécies de pequeno porte, Figueiredo explica que é preciso cavar um buraco com dimensões mínimas de 0,60 x 0,60 x 0,60 m a 0,80 x 0,80 x 0,80 m, para caber com folga o torrão, que é o bloco com raízes e terra. Na sequência, a muda deve ser colocada de maneira centralizada e fixada a um tutor por amarrilho de sisal em forma de oito deitado, para permitir a mobilidade da planta. “Ao fechar a cova, o ideal é colocar um pouco de terra vegetal com húmus de minhoca. Por fim, a muda deve ser irrigada de maneira excessiva para eliminar possíveis bolsões de ar. É importante também que ao redor da muda, o solo esteja preparado para a captação de água”, ensina o profissional.
A manutenção das árvores plantadas é fundamental para o sucesso. Em relação à manutenção, muitas cidades no Brasil não fazem o trabalho preventivo para evitar problemas. “Precauções e cuidados, como poda, adubação e irrigação, guiarão com êxito os exemplares até a fase adulta. A poda deve seguir a norma técnica 16246-1 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)”, explana Puente.
“Desbastes errados podem causar desequilíbrio na copa e/ou no tronco e, perante forças da natureza, como ventos e chuvas fortes, tornam-se mais vulneráveis à queda”, esclarece Mendes. O engenheiro florestal relata que cada espécie tem uma época do ano para poda e que há técnicas para fazê-la corretamente, a fim de se respeitar a crista e o colar, que se encontram na base do galho e serão responsáveis pela cicatrização. “O que é mais preocupante e difícil de analisar, por situarem-se abaixo da terra, são os cortes de raízes, nas quais ocorre a perda completa da sustentação, o que favorece a queda”, alerta Mendes.
Figueiredo afirma que apenas especialistas capacitados, como engenheiro florestal, agrônomo, biólogo ou técnico, estão aptos para a orientação e execução da poda. Ele explica que esse profissional define o momento ideal para o procedimento de limpeza e retirada de galhos mortos, a adubação correta e o tratamento fitossanitário para evitar a infestação de insetos. “No momento da poda e manutenção, é preciso identificar o tipo de corte para cada estrutura de árvore, evitando que isso interfira no equilíbrio dela, o que a tornaria suscetível a caídas. É preciso identificar também a cabeça da árvore e a sua raiz para que não sejam cortados, pois isso causaria a morte da árvore.” Outro cuidado destacado pelo especialista da Husqvarna é em relação ao corte incorreto, que pode prejudicar a cicatrização do tronco. “A árvore fica exposta a fungos e, consequentemente, à contaminação, o que pode resultar na queda da árvore.”
Texto Janaina Silva