Descubra a riqueza das orquídeas, como Vanilla e suas adaptações no ecossistema.
Com mais de 25 mil espécies descritas ao redor do mundo, incluídas em cerca de 1.800 gêneros, a família Orchidaceae é conhecida pela incrível diversidade. Além das plantas que vegetam nos galhos e troncos de árvores (epífitas), as que crescem sobre rochas (rupícolas) e as que nascem diretamente no solo (terrestres), há ainda algumas classificadas como hemiepífitas. “É um hábito exclusivo de algumas plantas dos gêneros Cyrtopodium, Catasetum, Maxillaria e, principalmente, Vanilla,” comenta René Rocha, orquidófilo e orquidólogo, de Areado, MG.
Mas, afinal, o que inclui uma orquídea dentro desta categoria? De acordo com Rodrigo de Andrade Kersten, biólogo e professor-doutor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), de Curitiba, PR, existem as epífitas verdadeiras e as hemiepífitas. “Nas primeiras, enquadram-se espécies que nascem e crescem sempre (ou preferencialmente) sobre outros vegetais. Por sua vez, são consideradas hemiepífitas aquelas que, em algum período de sua vida, mantêm contato com o solo.”
Segundo o orquidófilo e orquidólogo de Areado, as plantas com este hábito estão divididas entre primárias e secundárias. “As primárias germinam como epífitas e, posteriormente, estabelecem contato com o solo, ao passo que as outras germinam na terra e mantêm contato com o forófito (árvore que serve de apoio) e, futuramente, degeneram a porção basal do sistema radicular (base das raízes),” destaca.
Em outras palavras, as hemiepífitas secundárias nascem diretamente na terra e crescem como trepadeiras sobre as árvores, mas, após algum tempo, perdem o contato com o terreno, passando a vegetar como epífitas “verdadeiras” pelo resto da vida. “Em geral, elas têm caule ou folhas suculentas e podem resistir algum tempo sem água da chuva,” revela Kersten.
A maioria das Vanilla (que conta com cerca de cem representantes distribuídas nas regiões tropicais do mundo, exceto a Austrália) é considerada hemiepífita. “O gênero é formado por plantas escandentes de caule monopodial com folhas alternadas dispostas ao longo do caule. Suas folhas curtas, oblongoas e verde-escuras são carnosas e de textura coriácea. Algumas têm folhagens muito reduzidas, ou mesmo ausentes, utilizando apenas o caule para a fotossíntese. De cada nó saem longas e fortes raízes aéreas,” detalha o biólogo e professor doutor da PUC-PR.
Seu sistema radicular resistente permite que nasçam diretamente no solo, e, após algum tempo, desconectem-se dele e vegetem sem problemas sobre as árvores.
Curiosamente, algumas espécies podem se estender por até 100 m de comprimento, caso da V. planifolia e da V. insignis. “Esta última cresce em florestas tropicais entre 0 e 1.500 m sobre o nível do mar, em locais com chuva abundante. Outras, como a V. calyculata, são adaptadas a ambientes menos úmidos e outras em regiões completamente áridas,” informa Kersten.
No Brasil, foram reconhecidas 33 espécies de Vanilla, sendo que a maioria se encontra na Mata Atlântica da região Sudeste. Com flores grandes e atrativas nas cores branca, verde, amarela ou creme, são difíceis de cultivar domesticamente, justamente pelo hábito escandente (trepador) e tamanho. “Necessitam de algo para se apoiar durante o desenvolvimento. Quando o tamanho exceder o ideal para o ambiente ou atingir entre 1,80 e 2 m de altura, podem ser podadas sem causar traumas, retirando estacas para produção de novas mudas,” indica o especialista paranaense.
Texto Paula Andrade