Cymbidium Enzan Forest ‘Majolica’
Conheça as orquídeas terrestres menos comuns e obtenha dicas essenciais para o cultivo bem-sucedido.
É fato que as orquídeas terrestres não são as mais cultivadas pelos colecionadores e aparecem timidamente nas exposições; porém, é um grupo que merece ser melhor explorado. Apresenta variedade surpreendente de espécies, que vegetam nos mais diversos climas, solos, temperaturas e incidência solar.
Alguns gêneros famosos são Arundina, Bletia, Cleistes, Cymbidium, Cypripedium, Cyrtopodium, Eulophia, Galeandra, Govenia, Habenaria, Liparis, Phaius, Paphiopedilum, Phragmipedium, Prescottia, Sarcoglottis e Sobralia. No País, ganham destaque Arundina bambusifolia, Bletia catenulata, Epidendrum cinnabarinum, Epidendrum denticulatum, Eulophia alta, Galeandra beyrichii, Prescottia oligantha, Sacoila lanceolata, Sobralia liliastrum, Spathoglottis plicata, Oeceoclades maculata, Phaius tankervilleae, Paphiopedilum insigne, Paphiopedilum callosum, Phragmipedium caudatum e os híbridos de Cymbidium.
Segundo Fátima Caires, orquidófila e empresária da Aflora Produtos para Orquídeas, de São Paulo, SP, a maioria vive em climas temperados, tais como os da Europa Ocidental e regiões mediterrâneas. “O gênero Ophrys, por exemplo, é abundante em espécies, são todas belíssimas e exuberantes nas formas e cores, mas, no Brasil, por ser predominantemente tropical, seria difícil, senão impossível, de serem cultivadas”, comenta.
Na preferência dos orquidófilos brasileiros estão as mais adaptadas às nossas condições ambientais: Arundina bambusifolia, Phaius tankervilleae, variedades de Cyrtopodium, Paphiopedilum insigne, Phragmipedium sargentianum, Sacoila lanceolata, Spathoglottis plicata e os híbridos de Cymbidium.
CARACTERÍSTICAS DIFERENTES
Fátima afirma que as terrestres são encontradas em áreas úmidas, vegetando nas margens de matas ciliares, seja com luz indireta ou a pleno sol, e possuem raízes bem enterradas no solo. Há representantes que ocorrem em lugares inusitados: à beira de praias e estradas, em matas secas, nas clareiras das florestas, no alto de colinas e em terrenos baldios. “Algumas surgem em matas úmidas e sombrias, no chão e com as raízes superficialmente fixas sob camadas de material orgânico em decomposição (folhas, galhos e insetos mortos) e são consideradas por alguns estudiosos humícolas”, completa.
“No Brasil há uma grande diversidade de nativas, que aparecem tanto em locais ensolarados com temperaturas altas, por exemplo, no Nordeste, quanto em ambientes com pouca luz, por exemplo, as florestas densas e úmidas da Mata Atlântica”, explica José Carlos B. de Souza, diretor-técnico da Sociedade Bandeirante de Orquídeas (SBO) e proprietário do Orquidário Ambiental, de São Paulo, SP. O especialista menciona o gênero Sobralia, que conta com espécies cujas flores atingem 15 cm de diâmetro e resistem muito bem ao sol pleno, soltando várias flores em sequência. “O aspecto vegetativo é muito bonito e perene. É vista em residências enfeitando jardins, pois entouce com facilidade e necessita de poucos cuidados”, explica. Em geral, as terrestres podem ser mais difíceis de lidar do que as epífitas e rupestres. É essencial buscar informação sobre as características do habitat do exemplar e oferecer condições semelhantes.
A Warrea warreana é muito bonita, de porte avantajado e com belas folhas, e pode ser mantida em canteiros ensolarados. Algumas espécies de Cyrtopodium toleram solo pobre, com poucos nutrientes, e resistem ao sol. Na lista das que apreciam sombreamento estão Zygopetalum e Habenaria.
A orquidófila paulista lembra que também é importante se informar sobre as características da planta: se possui bulbos (tubérculos) para armazenamento de água e nutrientes, se estes rebrotam, se as raízes se aprofundam ou não no solo, qual substrato preferem etc. Souza complementa que o Phragmipedium é um exemplo. Tem cultivo delicado e exige atenção por não possuir pseudobulbos. Logo, não tem capacidade de armazenamento de grande estoque de nutrientes e gosta de terreno úmido, bem drenado e com bastante nutrientes.
Para o plantio de Sobralia macrantha, S. violacea, S. virginalis e S. iauaperiensis, pode-se misturar uma parte de húmus de minhoca, uma parte de terra de sarapilheira e não permitir que o solo resseque, o que significa regar com regularidade. Outras plantas que seguem este mesmo modo de cultivo são Eulophia alta e Sacoila lanceolata. “Esta última perde as folhas na época de dormência, por isso, alguns colecionadores preferem não tê-las na coleção, mas o colorido vermelho e a durabilidade das flores valem a pena”, acredita o orquidófilo paulista.
Para plantar a Arundina bambusifolia, Fátima recomenda preparar solo rico em material orgânico, numa mistura de terra comum, terra vegetal, areia grossa e pedriscos para garantir a drenagem.
TERRESTRES EM RISCO
Souza acrescenta que existe uma infinidade de terrestres que ainda não foram exploradas pelos colecionadores, como Bipinnula, Corymborchis flava, Cyclopogon, Liparis nervosa e Cranichis, com pequenas flores brancas. “Com a evolução dos meios de semeadura, com certeza as coleções se intensificarão, dando espaço a estas plantas.”
A especialista da Aflora alerta que esse grupo sofre com o aumento de risco de extinção, não somente pelo baixo interesse comercial e pela dificuldade em cultivá-las, mas pelas características dos habitats e pela limitação da distribuição geográfica. Há poucas espécies existentes e baixo potencial de dispersão, devido ao declínio de polinizadores, à ausência de micorrizas no solo ou por invasão de ervas daninhas, pragas e doenças. “Outros fatores naturais que contribuem são mudanças climáticas, seca prolongada e erosão natural. Isso somado às ações humanas, como queimadas, coleta ilegal, desmatamento, limpeza da terra para agricultura ou construção de empreendimentos imobiliários.”
Texto Renata Putinatti Fotos Daniel Mansur, Rafael Coelho e Tatiana Villa