Angraecum: Cultivo e Flores Raras

Explore os segredos do gênero Angraecum, suas flores exóticas e as melhores práticas para garantir seu crescimento saudável.

Com mais de 200 espécies, o gênero Angraecum encanta os colecionadores não só pelas belas inflorescências, mas também por várias características únicas. A primeira delas é o nectário (espécie de cauda presente na flor), que varia muito de tamanho, mas pode chegar a 1 m de comprimento. “Ele produz o néctar para atrair mariposas noturnas, o agente polinizador que tem uma trompa extensa que se desenrola para captar a substância”, informa Creuza Müller, proprietária do Orquidário da Mata, de São Paulo, SP.

Apesar de contar também com floradas nas cores creme ou verde-claras, outra particularidade do grupo são as unidades brancas que surpreendem a todos por seu brilho intenso durante a noite para atrair os insetos que realizam a polinização. Estas duas características estão presentes no Angraecum sesquipedale, conhecido também por orquídea Cometa de Madagascar. Representante mais célebre do grupo, chegou a ser estudado pelo naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882). “Ao ver seu extenso esporão, ele havia previsto que, para a fecundação daquela flor, o polinizador deveria ter uma grande língua. Mas foi ignorado e só anos mais tarde foi descoberta a espécie de mariposa (Xanthopan morganii) responsável pela tarefa”, destaca Ronaldo Sabino, do Orquidário Imirim, da capital paulista.

“Vale ressaltar que em seu habitat na África, só este inseto chega a ter intimidade com a planta, em uma simbiose que garante o alimento dele e a propagação desta maravilhosa orquídea. É um caso único”, acrescenta Creuza.

MORFOLOGIA

Com exemplares epífitos e rupestres encontrados no continente africano e em ilhas do Oceano Índico, é um grupo bastante variado. Pode apresentar flores com labelo largo em forma de concha, invertido ou ainda estreladas. As folhas variam entre o verde-acinzentado, verde-claro e verde-escuro, algumas com textura coriácea e duras, e outras delicadas e moles.

“Os Angraecum crescem como vandáceas e são monopodiais. Existem plantas com tamanho em miniatura, caso da anã Angraecum distichum, com aglomeração de ramos decrescentes e curvados com flores brancas estreladas, e outras com mais de 80 cm de altura, como o Angraecum erburneum, com uma longa haste floral que chega a ter 1,20 m, com até 30 flores reunidas”, descreve a proprietária do Orquidário da Mata.

De acordo com Sabino, podem apresentar uma única flor, como (Angraecum Longiscott), ou hastes com dezenas delas. Normalmente, são perfumadas e enfeitam o orquidário por 20 dias, em média. “Como trata-se de um gênero enorme, pode-se dizer que não há uma época precisa para as floradas aparecerem. São vistas durante todo o ano”, diz ele.

Angraecum germinyanum e Angraecum sesquipedale desabrocham em várias épocas do ano, mas principalmente no final do inverno e no início da primavera.

CUIDADOS

Já que são centenas de espécies endêmicas de habitats bastante diferentes entre si, é preciso pesquisar sobre as preferências de cada uma para oferecer os tratos culturais adequados. Para começar, estas plantas podem ser acondicionadas em vasos de plástico ou caixas de madeira ou ser fixadas nos troncos de árvores. Os substratos variam conforme o hábito vegetativo (epífitas ou rupestres). Creuza recomenda o uso de cascas de árvores rugosas, como peroba ou ipê, ou pedaços pequenos de carvão vegetal misturados com pinus. Para a inserção em troncos, basta colocar esfagno nas raízes. E, por fim, a mescla de esfagno com isopor picado e pedras no fundo do vaso (que servem como dreno) é uma boa pedida para as espécies pequenas. “O mais importante é que o substrato tenha pouca retenção de água, bastante aeração para as raízes, além de conservar umidade e adubos. Cada orquidófilo descobrirá com o bom-senso qual é a mistura ideal e adicionar estes conhecimentos para ter sucesso no cultivo”, ensina a especialista.

Sabino revela que o ideal para a maior parte das espécies é que o ambiente tenha temperaturas amenas e o sombreamento gire em torno de 60%. “Podem ser tratadas como as Cattleya, que suportam variações climáticas”, salienta o proprietário do Orquidário Imirim.

Segundo Creuza, as espécies originárias das montanhas de Madagascar, caso de Angraecum germinyanum, devem ser cultivadas à meia-sombra com regas diárias no verão. O Angraecum scottianum, originário das ilhas Comores, com clima tropical quente e úmido, deve receber mais luz e regas diárias, enquanto o Angraecum didieri, de clima subtropical, deve ser cultivado à meia-sombra, com ventilação elevada e regas a cada 48 horas. Por outro lado, o Angraecum erburneum, planta robusta e grande, com folhas coriáceas, pode ser cultivada a pleno sol em local bem ventilado e úmido, com irrigações diárias. “Por conta de todas estas particularidades, deve-se observar as características fundamentais para que as plantas se desenvolvam bem sem perecer. A parte difícil do trato dos Angraecum é que cada espécie tem condições de cultivo distintas e, por isso, devem ser seguidos à risca o clima do local de onde vieram”, enfatiza a especialista.

ADUBAÇÃO E COMBATE A PRAGAS

Como as regas são geralmente abundantes, a melhor pedida é adubar estas orquídeas semanalmente com NPK 20-20-20. Para aquelas que florescem várias vezes ao ano, intercale este fertilizante com o NPK 9-45-15, rico em fósforo. “Dificilmente enfrentam problemas com pragas e doenças. De forma geral, são plantas robustas”, afirma Sabino.

Cochonilhas e pulgões podem aparecer se o ambiente não contar com boa ventilação, ao passo que doenças bacterianas ou fúngicas surgem devido ao desequilíbrio de temperatura, rega e umidade.

Replantes só devem ser feitos em caso de extrema necessidade. Creuza recomenda a realização do procedimento em vasos de plástico a cada dois ou três anos, sempre após a floração, preferencialmente na primavera, tomando muito cuidado com as raízes, que não apreciam muita manipulação. Os exemplares inseridos em cestas de madeira não precisam passar por replantes.

AS QUERIDINHAS

Existem poucos híbridos de Angraecum comercializados no país. “O foco do colecionador é maior nas espécies”, destaca Creuza.

De acordo com os especialistas, os representantes mais cobiçados são Angraecum sesquipedale, Angraecum germinyanum, Angraecum leonis, Angraecum compactum, Angraecum calceolus, Angraecum distichum, Angraecum infundibulare e Angraecum florulentum.

Apesar das belas inflorescências, Angraecum scottianum e Angraecum erburneum não estão muito presentes nas coleções devido ao grande porte.

Texto Paula Andrade.

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