Simetria, composição de padrões e poda geométrica caracterizam os jardins com influência do estilo francês
Formas rígidas, simétricas e estruturadas, praticamente um atestado da capacidade humana de produzir belezas ímpares onde a natureza é submissa: assim é o estilo de jardim clássico francês, que herdou características do Renascimento italiano e evoluiu junto ao Barroco do século XVII. A mesma pomposidade vista nos trajes da corte se estendeu ao paisagismo por meio de nomes como André Le Nôtre, autor dos famosos jardins de Tuileries, em Paris, e do espaço verde do Palácio de Versailles, na cidade homônima. Como indicado no livro The World of André Le Nôtre, escrito por Thierry Mariage, seu nome é sinônimo do que se costuma chamar “estilo formal” da arquitetura da paisagem. Os aspectos histórico-culturais, junto ao estudo apurado da simetria, levaram à criação da identidade particular. “Tudo o que há de um lado precisa aparecer no outro, como se estivessem espelhados”, destaca Lucia Borges, paisagista da Giardino Plantas, de Belo Horizonte, MG.
Caminhos de cascalhos largos com bordaduras delineando os parterres — ou “padrões” —, cercas e arbustos verdes perfeitamente podados são outras características de destaque, como indica Mônica Castelo Branco, paisagista da Botana, do Rio de Janeiro, RJ. Para mantê-las, a manutenção deve ser constante. Além das podas para definir desenhos, volumes e contornos, a grama precisa ser aparada e estar sempre limpa. Com o passar do tempo, o estilo vem se misturando a traços mais contemporâneos e, por vezes, retorna às raízes italianas ou se aproxima do romantismo inglês. Dessa forma, algumas características fundamentais permanecem, mas nem todas prezam pelo padrão rígido, principalmente fora da França — a exemplo dos projetos que ilustram essa matéria.
Moda Barroca
As espécies utilizadas para compor o estilo variam entre ciprestes (Cupressaceae), tuias (Thuja sp.), buxinho (Buxus sempervirens), lavanda (Lavandula sp.), hera (Acanthaceae), glicínia (Wisteria sp.) e amor-perfeito (Viola x wittrockiana), com graciosidade proporcionada por tulipas (Tulipa hybrida), roseiras (Rosaceae) e azaléias (Rhododendron simsii), as quais se adaptam bem a climas temperados e subtropicais. Aqui no Brasil também são utilizadas murtas (Murraya exotica), lírios (Lilium sp.), kaizukas (Juniperus chinensis torulosa) e virbunos (Viburnum sp.) para que o mesmo visual seja garantido. “A substituição de espécies acontece devido ao clima, mas sempre procuramos executar um jardim de formatos limpos que caracterizam bem o estilo. No Brasil, dois belos exemplos estão no Jardim Botânico de Curitiba, PR, e no Parque da Independência, em São Paulo, SP”, acrescenta Mônica.
Em termos de cor, a paisagista da Giardino Plantas indica pouca mistura, integrando cores análogas ou contrastantes. Levando em conta a perspectiva desejada, lugares amplos são mais apropriados para ganharem os traços de influência renascentista, mas é possível trabalhá-los em locais menores a partir de um projeto bem desenvolvido. Para arrematar a estética, além do verde, há espaço para pergolados, caramanchões, fontes, bancos, esculturas e luminárias. Esses itens favorecem a distribuição axial (relativa ao eixo) e os pontos focais quando bem posicionados. “Já os caminhos contornam os canteiros e os bancos e vasos são colocados em pontos estratégicos, como quinas e extremidades”, acrescenta Lúcia.
Texto Cristina Tavelin. Fotos [1] Daniel Sorrentino, [2] Gui Morelli, [3] Tarso Figueira, [4] Tatiana Villa.