Jardim Japonês: Beleza e Tradição Milenar

Descubra a harmonia e serenidade dos jardins japoneses, onde cada elemento conta uma história de beleza e contemplação.

Abraçado pela natureza, como se fosse uma síntese dela, o jardim japonês tem como proposta principal ser um recanto de contemplação e tranquilidade. A estética de origem milenar influenciou profissionais do mundo todo que visam integrar mais harmonia em cada espaço. “Esses jardins não impressionam pela magnificência ou tamanho, e sim, procuram mais o silêncio, a pureza da forma, a delicadeza e a perfeição cuidadosa nos detalhes. O importante não é o visto, mas sim o imaginado”, destaca o arquiteto, paisagista e professor universitário Sarkis Sérgio Kaloustian no livro Jardim Japonês – A Magia dos Jardins de Kyoto, da editora K.

O profissional realizou uma ampla pesquisa por quatro anos para produzir a obra em questão, uma das mais completas sobre o tema publicadas no Brasil. Nela, identifica os principais tipos de áreas verdes japonesas: o jardim de passeio com lago, monumental com árvores de grande porte; o de contemplação, menor e com um lago pequeno, construído para ser observado de um ponto fixo; o de paisagem seca, elaborado com pedriscos e rochas e conhecido como zen; o da cerimônia do chá, que precede o caminho até o casebre onde são realizados os ritos; e, por último, o jardim mínimo, localizado na casa dos moradores e geralmente bem pequeno.

Como é possível notar, um jardim japonês diz respeito a vários espaços em um. Fora do país de origem, o Portland Japanese Garden, nos EUA, é reconhecido como um dos mais autênticos por seus elementos e design rigoroso. Em Buenos Aires, Argentina, a versão localizada no bairro de Palermo também atrai visitantes de todo o mundo. Aqui no Brasil, a estética oriental pode ser observada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, RJ, e no Pavilhão Japonês do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, SP.

Espécies e Elementos

Mas como seria exatamente essa estética oriental na concepção dos jardins? Nos espaços tradicionais, não faltam cerejeiras (Prunus serrulata) – a árvore mais cultuada do Japão – azaleias (Rhododendron simsii), camélias (Camellia japonica), pinheiros-negros (Pinus thunbergii), bordôs-japoneses (Acer palmatum), kaizucas (Juniperus chinensis torulosa), buxinhos (Buxus sempervirens), glicínias (Wisteria sp.), hortênsias (Hydrangea macrophylla), entre outras. Na adaptação para o clima tropical, utiliza-se também flor-de-lis (Iris germanica), primaveras (Bougainvillea glabra) e nandinas (Nandina domestica). “É interessante incluir espécies que possam ser topiadas”, avalia Gabriela Pileggi, sócia do escritório Jardineiro Fiel, de São Paulo, SP.

Ivani Kubo, paisagista da capital paulista, indica que o estilo japonês dá preferência ao verde em relação às floríferas, pois elas seriam efêmeras e de transformação rápida na visão dos orientais. Além disso, há mais ênfase na simbologia do que nas cores, formas e texturas dessas espécies. “A camélia é usada antecedendo o espaço principal do jardim, pois suas pétalas caem, fazendo menção às cabeças decepadas dos samurais”, reflete.

Fora as plantas, os outros elementos são de extrema importância para pontuar o espaço com a filosofia oriental. Se a rigidez dos jardins franceses está nas geometrias e simetrias elaboradas pelo homem, nesse caso a organização exige cuidado para criar um ambiente transcendental. “No caso das rochas, conforme seu posicionamento, podem remeter à família, ao sistema solar, aos deuses”, destaca Ivani.

A ideia de fazer uma síntese da natureza e da trajetória do ser humano se mostra em cada detalhe do espaço. “Deve-se olhar para o jardim e ter a sensação de contemplar todos os elementos: montanhas, lagos, árvores, rios e rochedos”, destaca Gabriela. Para representá-los em proporções menores, incluem-se fontes, lagos e pedras, por exemplo. As carpas, muito presentes nesses jardins, simbolizam fertilidade e prosperidade e devem estar em água cristalina para serem observadas. Pontes e lanternas também costumam marcar presença. “Os caminhos do paisagismo nipônico nunca são retilíneos. As curvas expressam o trajeto do homem durante a vida, sempre vencendo obstáculos para seguir em frente”, acrescenta Ivani.

Um Outro Olhar Para a Vida

Além da beleza ímpar conservada ao longo de muitos anos, os jardins japoneses podem acrescentar algo a mais principalmente para os estrangeiros. Um olhar mais reflexivo em relação ao cotidiano e à efemeridade dos dias pode levar à valorização de aspectos mais importantes da vida. “Aqui no Brasil não há uma cultura direcionada ao cuidado do jardim pelo próprio dono, por isso costuma-se investir em projetos mais práticos”, destaca Gabriela, da Jardineiro Fiel. A manutenção constante exigida no jardim japonês – de podas à “limpeza” dos pedriscos nos caminhos – tira um pouco do entusiasmo em ter um espaço desses.

O estilo de “jardim de estar”, onde todos estão de passagem, faz com que o caráter de contemplação seja esquecido. Entretanto, para trazer um pouco da estética oriental e da calmaria dessa cultura, não é necessário incluir todos os elementos representativos no ambiente. “O importante é escolher aqueles que sejam viáveis e significativos para quem desfruta do lugar. Se, antigamente, ter um jardim japonês era privilégio de nobres e samurais, hoje, qualquer pessoa pode possuir um refúgio oriental, mesmo em pequenos espaços”, finaliza Ivani.

Texto Cristina Tavelin. Fotos [1] Divulgação/David M. Cobb, [2] Divulgação/Donair Spencer e [3] Divulgação/Shutterstock.

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