Sophrolaeliocattleya, suas Características e Cultivo

Slc. Natalie Canipelli ‘Moon Shot’

Descubra a história, as peculiaridades e os cuidados necessários para cultivar o híbrido Sophrolaeliocattleya.

A Sophrolaeliocattleya (Slc) surgiu em 1897, caracterizando-se como o primeiro híbrido considerado trigenérico na época. Trata-se de um gênero artificial, obtido a partir do cruzamento de espécies dos grupos Sophronitis × Laelia × Cattleya ou por combinações entre si, como Laeliocattleya × Sophronitis, Sophrolaelia × Cattleya ou Sophrocattleya × Laelia.
Em março de 2008, o brasileiro Cássio van den Berg propôs que as espécies submetidas anteriormente ao gênero Sophronitis fossem transferidas para o gênero Cattleya. Em meados de 2010, a Royal Horticultural Society (RHS) – entidade internacional de registro de híbridos – adotou essa reclassificação em seu banco de dados. Assim, gêneros obtidos através dessas hibridações também tiveram seus nomes genéricos alterados de Slc., Sc. e Lc. para Cattleya. Porém, para facilitar o entendimento, manteremos os nomes tradicionais. Para a nomenclatura atual e oficial dos híbridos Sophrolaeliocattleya, acesse o The International Orchid Register através do link: http://apps.rhs.org.uk/horticulturaldatabase/orchidregister/orchidregister.asp.

CARACTERÍSTICAS E CULTIVO
“As Slc. geram plantas que produzem flores pequenas ou médias, dependendo das combinações das espécies e híbridos usados na composição”, conta o orquidólogo e orquidófilo René Rocha, de Areado, MG. As condições de cultivo são variadas e dependem da dominância entre as plantas utilizadas no cruzamento. “No geral, pode-se seguir a mesma conduta de cultivo para os híbridos de Cattleya: 50 a 70% de sombreamento, umidade relativa do ar superior a 60% e rega apenas quando o substrato estiver seco. A adubação deve ser quinzenal com produtos hidrossolúveis, organominerais ou combinados”, explica Rocha.
Segundo Rocha, em casos de dominância de Sophronitis, deve-se ter especial atenção ao sistema radicular frágil e sensível a qualquer excesso de umidade; para situações em que a predominância for de Cattleya bifoliada, deve-se ficar atento à facilidade de desidratação de seus pseudobulbos finos e compridos, à sensibilidade aos raios solares em suas folhas e ao sistema radicular, sendo melhor cultivada em pedaços de cascas ou tronquinhos serrados; se a Laelia for principal, como uma L. purpurata, deve-se atentar à maior luminosidade que ela exige para boa floração e cultivá-la em vasos rasos e em substrato de rápida drenagem. Em razão da grande variabilidade de espécies envolvidas, é importante estudar a árvore genealógica e a porcentagem da composição das espécies componentes. “Plantas de cultivo difícil muitas vezes transmitem essa característica aos descendentes”, finaliza o especialista.

PECULIARIDADES DOS GÊNEROS
Nenhum gênero pode rivalizar em quantidade de híbridos vistosos e de efeito ornamental obtidos a partir da Cattleya. “Uma das características das espécies desse grupo é a diversidade: não é fácil distingui-las”, avalia Rocha. De modo geral, elas podem ser divididas em dois grupos principais: as bifoliadas, de flores médias e com grande número por haste, e as unifoliadas, com flores grandes e em menor número por haste floral. Para os híbridos, o tamanho das flores irá variar conforme a espécie usada no cruzamento. A Laelia é um ex-gênero brasileiro variadíssimo em espécies. “As mais usadas na formação de Slc. são as espécies L. harpophylla, L. cinnabarina, L. crispata, L. milleri e L. briegeri, que transmitem suas cores amarela e abóbora, intensificam tons de rosa, reduzem o tamanho da planta resultante e, principalmente, aumentam o tamanho e a rigidez das hastes florais”, conta Rocha. As espécies mais utilizadas para formação de Slc. da seção Hadrolaelia são as L. sincorana, L. praestans, L. alaori e L. pumila; da seção Crispae, são as L. purpurata, L. tenebrosa, L. perrinii, L. xanthina, L. crispa e L. lobata.
Do grupo Sophronitis, que abrigava nove espécies, apenas três, Soph. coccinea, Soph. brevipedunculata e Soph. wittigiana, são as mais usadas para composição de Sophrocattleya e Sophrolaeliocattleya. Seu principal problema é a transmissão do pedúnculo curto, que faz com que a prole produza hastes florais curtas ou muito flácidas quando longas. Isso é corrigido com a introdução de uma ‘laelinha mineira’ ou de uma Cattleya bifoliada na genealogia, pois ambas possuem hastes florais longas e rígidas. “Em hibridação, a Sophronitis transmite seu colorido à progênie, que se caracteriza por flores nas cores vermelha ou alaranjada, amarela, rosa, rosa-salmão e coral brilhantes, ou a combinação de tons dessas cores. O vermelho original não consegue dominar o amarelo, mas acentua o magenta dos lilases, dá cor de pitanga quando cruzada com tons de laranja, capta o pintalgado da C. schilleriana e C. aclandiae para se transformar em verdadeiros tons de rubi e cria vermelhos inacreditáveis”, explica o orquidófilo de Areado, MG.
A Sophronitis produz híbridos anões ou reduz o tamanho e a forma espalmada da planta. Ela também gera hastes fracas com ovários grandes, o que deixa a flor virada para baixo. Os outros dois aspectos são a necessidade de temperatura baixa e a tendência de sistema radicular sensível e escasso. Seus híbridos precisam ser elaborados com maior tolerância ao calor e melhor sistema radicular. “Várias híbridas Sophrocattleya, como Sc. BeaufortCattleya luteola) e Sc. OrpetiiL. pumila), são um passo na direção de orquídeas mais vigorosas e também usadas na formação de Slc.”, complementa Rocha.

CHUVA DE CORES
As cores vermelha, abóbora, amarela, rosa, rosa-salmão e coral das Sophronitis devem-se à presença de substâncias como flavonoides e carotenóides, que são facilmente transmitidas a seus híbridos. As cores das flores, da vermelha ao púrpura e ao azul, são, na maioria, devido à antocianina, que é um tipo de flavonoide. “Dessa maneira, nos cruzamentos com Cattleya, o resultado é muito diversificado. O ponto comum é a transmissão dessas substâncias pela Sophronitis, que se estende a uma Slc.”, diz Rocha.
Quanto à Cattleya, descobriu-se que no cruzamento com L. purpurata herdava o colorido púrpura intenso do labelo e também a má forma das pétalas. Com L. crispata, recebe o amarelo intenso e o tamanho reduzido das flores. A C. luteola transmite a diminuição no porte da planta resultante, a cor amarela e a substância de suas flores. Algumas espécies de Laelia e também de Cattleya bifoliada transferem a qualidade de floração precoce para as descendentes. “Da Soph. coccinea vem a cor vermelha pura, até então inexistente em Cattleya, mas também o tamanho pequeno e a dificuldade de cultivo. Assim, as hibridações objetivam agrupar virtudes dos pais na planta resultante, se possível, sem carregar os traços negativos”, explica Rocha. A L. tenebrosa e a C. bicolor dão a cor bronze ou marrom. “A C. aurea é famosa e tradicionalmente usada pela dominância da tonalidade amarela e intensificação de vermelhos nos híbridos, embora seja uma daquelas que eu classifique como ‘enjoadinhas e exigentes no cultivo’, assim como a maioria de suas filhas híbridas”, conclui o especialista.

Curiosidade
Com a crise do petróleo nas décadas de 1970 e 1980 e o alto preço das fontes energéticas nos países que dependiam de estufas aquecidas para o cultivo, foi preciso diminuir o tamanho das plantas. “No início da década de 1980, os japoneses trabalharam com espécies brasileiras de pequeno porte, como Soph. coccinea, L. pumila, C. walkeriana, L. crispata, L. milleri e L. briegeri, e houve o uso abundante de C. intermedia aquinii na produção de híbridos”, conta Rocha. Nos Estados Unidos, criou-se a Slc. Hazel Boyd. No Brasil, Noboru Suzuki registrou a Slc. Suzuki (Sophronitis coccinea × Lc. Jose Dias de Castro) em 1970, obtendo um dos coloridos magentas mais bonitos conhecidos na época.

Texto Alexandra Iarussi

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