Aprenda a detectar e tratar pragas comuns em orquidários para proteger suas plantas.
Para um colecionador de orquídeas, não há nada mais prazeroso do que ver a área de cultivo saudável e cheia de cor. Infelizmente, o ambiente não está livre dos ataques das tão temidas pragas, que podem resultar até na perda do exemplar. A boa notícia é que os danos mais graves são evitados quando diagnosticados previamente. Para isso, vale seguir à risca o hábito de observar atentamente cada espécie.
Segundo o botânico e pesquisador Renato Ximenes Bolsanello, de Barueri, SP, as pragas mais encontradas nos orquidários brasileiros são cochonilhas, lesmas, caracóis, nematoides, pulgões, vespas, larvas, caramujos, formigas e percevejos. A lista pode assustar, mas não é difícil identificar os primeiros sinais de ataque. “Toda planta se desenvolve com saúde. A partir do momento em que esse processo é prejudicado, é preciso ficar atento. Folhas cortadas, manchadas ou escurecidas e pseudobulbos fora dos padrões da espécie podem ser resultado de pragas”, explica.
Vários fatores podem influenciar no surgimento dos seres nocivos. “Espaços com muitas plantas acumuladas, substratos de compostos, excesso de umidade e falta de cuidado são alguns casos que propiciam o aparecimento”, afirma Ronaldo Sabino, proprietário do Orquidário Imirim, localizado na capital paulista. Casos onde há manejo inadequado, falta de higiene, pouca iluminação e excesso de água e umidade também favorecem o ataque.
Para mantê-las longe, conserve o local de cultivo limpo e arejado e adquira sempre espécies sadias e de fontes reconhecidas. Exemplares recém-adquiridos devem ficar em quarentena para que o desenvolvimento seja observado sem prejudicar as demais espécies da coleção. O ideal é que o orquidário seja construído em áreas bem iluminadas que recebam luz solar na maior parte do dia. “Faça uso de inseticidas químicos e naturais regularmente e regue de maneira adequada, sem encharcar as plantas. Caso a dose seja excessiva, é importante que o substrato tenha boa drenagem e seja sempre renovado”, comenta Bolsanello.
LOCALIZEI O ATAQUE. E AGORA?
Muitos sinais de ataque podem ser vistos a olho nu, mas é altamente recomendada a avaliação de um agrônomo para ter certeza de qual praga se trata e, a partir daí, iniciar o tratamento adequado. O primeiro passo é isolar as plantas afetadas e observar se é possível tratá-las ou se deverão ser descartadas para não afetar as demais orquídeas. “É sempre bom lembrar que mesmo os exemplares saudáveis devem ser cuidados para evitar a proliferação”, diz Sabino.
No caso de caracóis, lesmas e caramujos, o botânico e pesquisador comenta que apenas a retirada ou a utilização de iscas com pesticidas, como metaldeído e carbamato, dão conta do problema. “Para cochonilhas e pulgões, o mais recomendado é lavar com esponja macia, água corrente e sabão neutro”, afirma. Vale ressaltar que o uso de luvas e equipamentos de proteção é indispensável.
Outras formas de combate envolvem inseticidas organofosforados e óleos minerais. Quem prefere optar por produtos naturais pode investir em calda de fumo, calda de sabão e alho ou óleo de nim.
SEMPRE ATENTO
Observar atentamente é a melhor forma de prevenção, mas é bom ter em mente que alguns gêneros são mais suscetíveis ao ataque. “Orquídeas com folhas mais carnudas, como Cattleya e Laelia, são as preferidas das cochonilhas”, afirma Bolsanello. Já algumas espécies de Oncidium e Dendrobium costumam ser atacadas por caramujos. “No entanto, não é uma regra, mas o ambiente que favorece o aparecimento das pragas. Por isso toda orquídea pode ser atacada”, comenta Sabino.
Assim como existem determinados grupos que são mais sensíveis, algumas regiões podem favorecer o ataque. “Áreas com muita umidade e próximas a matas tendem a ter mais pragas”, explica o botânico e pesquisador. O proprietário do Orquidário Imirim acrescenta que o número de insetos pode aumentar no verão, quando o calor é mais frequente.
1 – Calorileya nigra e Eurytoma orchidearum
Também chamadas de lisosomas, podem causar prejuízos graves. Bolsanello explica que existem dois tipos de insetos: Calorileya nigra e Eurytoma orchidearum. O primeiro abrange adultos com corpo escuro com cerca de 2,50 mm de comprimento. “Os ovos são depositados na ponta das raízes das plantas. As larvas nascem e, ao virarem vespas, voam sem causar maiores danos”, afirma o profissional.
O segundo grupo apresenta vespas de cor negra e fêmeas maiores, com aproximadamente 4 mm de comprimento. O principal problema é que os ovos são colocados no pseudobulbo do exemplar. As larvas passam então a se alimentar dos tecidos internos da estrutura, tornando-a completamente oca e sem função. O primeiro passo é ter a avaliação de um agrônomo antes de iniciar o combate. Se for diagnosticado o ataque de Calorileya nigra, um simples corte da raiz afetada pode resolver. Da mesma forma, a retirada do pseudobulbo infestado deve controlar os prejuízos causados pela Eurytoma orchidearum.
Se o problema persistir, recomenda-se a utilização de inseticidas e agrotóxicos sistêmicos. “Existem alguns produtos organofosforados disponíveis no mercado, mas há relatos de resistência por parte de algumas pragas”, diz Sabino. Ele explica que também é possível utilizar armadilhas naturais, como a placa adesiva que atrai os insetos.
2 – Cochonilha
É bem pequena e é encontrada na cor branca ou em tons de laranja, vermelho e marrom. As fêmeas possuem aparelho bucal capaz de sugar a seiva do sistema vascular das plantas. O sintoma de ataque mais comum é o enrugamento das folhas.
3 – Pulgão
Bem pequeno e nas cores verde, amarelo e preto, é levado para as plantas pelas formigas. Fica alojado nos brotos e pseudobulbos, sugando a seiva e deformando as folhas por completo. Multiplica-se com bastante rapidez e favorece o surgimento de fungos.
4 – Lesma
Tem corpo viscoso e costuma agir durante a noite, escondendo-se no substrato ao longo do dia. Alimenta-se de raízes, folhas e caule. Para comprovar o ataque, observe se a orquídea está com alguma raspagem ou com folhas danificadas.
5 – Percevejo
Assim como a cochonilha e o pulgão, consegue sugar a seiva da orquídea e tem o broto como principal alvo, causando a queda de flores. Costuma atacar com bastante rapidez durante a noite, deixando manchas amarelas e arredondadas em algumas folhas.
6 – Lagarta
É mais comum em orquidários abertos e costuma atacar apenas flores e folhas macias, como exemplares de Zygopetalum e Paphiopedilum. As melhores opções para combate são inseticidas à base de água ou sistêmicos, que ajudam a controlar a infestação.
Texto Camilla Chevitarese Fotos [1] Evelyn Müller, [2] Gimenez, [3] Helena Pucci e [4] Shutterstock