Estilo de Jardim Tropical: Harmonia e Natureza

Descubra como o jardim tropical valoriza plantas brasileiras e cria ambientes naturais e ecológicos.

Já que existem os estilos de jardim japonês, francês e inglês, talvez o jardim tropical devesse ser chamado de brasileiro. De característica exuberante e intensa, este é o formato que mais se identifica com nosso país.

“No Brasil ele ganhou visibilidade devido, em grande parte, ao trabalho de Roberto Burle Marx, o qual soube utilizar com maestria as espécies tropicais (nativas e exóticas) em seus jardins, valorizando, sobretudo, as nativas, que até então eram vistas como mato e que não recebiam o devido valor”, conta a arquiteta paisagista Isabela Ono, coordenadora de projetos do escritório de paisagismo Burle Marx, no Rio de Janeiro, RJ.

Leticia Momesso, paisagista e professora do portal Eduk, concorda. “É de comum acordo que esse estilo tenha surgido com Roberto Burle Marx, o primeiro paisagista a valorizar as plantas naturais do Brasil em suas composições, a partir da década de 1930.” Ela explica que suas linhas são sinuosas, orgânicas e harmonizadas com a paisagem.

“O jardim tropical rompe com a rigidez europeia, criando uma paisagem que parece naturalmente formada pela natureza.”

Tons Verdes e Cores Quentes

Ambas as profissionais apontam para as folhagens de diferentes formas que predominam num jardim tropical e a cor verde. “Usam-se os contrastes entre os diversos tons de verde, suas nuances e texturas para a clareza da composição”, diz Leticia. Já a floração deve ser exuberante e pender para os tons quentes, como vermelho, laranja e amarelo. Isabela destaca a família Araceae, como espécies de Philodendron e Anthurium, além de palmeiras (Arecaceae) de diferentes tipos e as flores das heliconiáceas e bromeliáceas. “A floração das árvores tropicais é igualmente exuberante e intensa. Os ipês (Bignoniaceae), eritrinas (Fabaceae), quaresmeiras (Melastomataceae), cássias (Fabaceae), córdias (Boraginaceae), lofoanteras (Malpighiaceae) e couroupitas (Lecythidaceae) se destacam entre as espécies tropicais”, completa.

Para Leticia, no jardim tropical não existe topiaria e os ângulos retos são poucos. “Ele veio para romper com a rigidez dos jardins europeus. Existe nele uma composição em que são trabalhadas as proporções das plantas tropicais e subtropicais, com sua disposição cuidadosamente estudada para parecer que a natureza fez aquela paisagem sozinha, ao mesmo tempo em que é pensado para que haja a valorização de cada um dos elementos instalados.” Ela afirma que há curvas amplas, traçados sinuosos e livres e que a proporção está muito mais relacionada com o entorno do que com a arquitetura em si, apesar de ainda manter uma relação harmoniosa com ela. “Há um sentido ecológico, uma tentativa de agrupar, paisagisticamente, plantas que se associam naturalmente no Brasil”, define. Ela também elege as palmeiras, helicônias e bromélias e acrescenta bananeiras (Musaceae), gramíneas, dracenas e samambaias (Asparagaceae), e até mesmo orquídeas (Orchidaceae).

“Roberto Burle Marx trouxe visibilidade ao estilo tropical, transformando mato em arte e celebrando a flora brasileira.”

Já para a paisagista Ana Paula Magaldi, de São Paulo, SP, o estilo combina com todos os tipos de projetos arquitetônicos. “Ele está relacionado ao nosso clima e nossa matéria-prima é a vegetação tropical, que, quando projetada com contraste de cor e simetria, valoriza diversos tipos de arquitetura.”

“Mais importante do que pensar em estilos de jardim é pensar na estrutura paisagística de um projeto ou composição. O jardim francês, por exemplo, tem normalmente uma estrutura mais formal, com a utilização de recursos projetuais, como a simetria, ritmo bem definido e uso da perspectiva, entre outros. O jardim tropical, por sua vez, tem normalmente características menos formais, porém, nada impede que se utilize uma estrutura formal para acentuar determinado aspecto ou enfatizar uma linha de força”, pontua Isabela ao defender que diferentes estilos podem ser utilizados em um mesmo espaço ou projeto. “Não existe uma fórmula, ou certo e errado. Uma composição paisagística pode comportar a utilização de diferentes tipologias. Buscar a harmonia do conjunto é a tarefa do profissional de projeto paisagístico.”

Locais para se Admirar

Leticia acredita que esse seja o estilo mais indicado para nosso país, pois atrai, abriga e alimenta toda uma fauna local, além de ser harmonizador do espírito quando usado para contemplação. “Bancos, pedras, fontes, lagos e espelhos d’água fazem parte desse tipo de jardim, desde que com cores naturais e formas orgânicas, integrando-se harmonicamente com a própria natureza.” Fora os espelhos d’água, Isabela cita os pergolados, esculturas e painéis artísticos como itens que podem ser utilizados no jardim tropical.

“A valorização de plantas nativas brasileiras define o jardim tropical, promovendo ecologia e harmonia com a fauna local.”

Caso queira apreciar algum projeto típico tropical, Leticia recomenda um projeto de Burle Marx de fácil visitação, o parque Ibirapuera, em São Paulo. “Outros que valem a pena serem pesquisados, por sua beleza e equilíbrio, são a Residência Nininha Magalhães Lins, RJ; Residência Odete Monteiro, Corrêas, RJ; Residência Colombo, Itanhangá, RJ; e Residência Maria do Carmo Nabuco, RJ.” Isabela também lista alguns lugares. “São muitos os exemplos de jardins tropicais que podem ser encontrados no Brasil. Um dos primeiros projetados com essas características foram os jardins da Praça da Casa Forte, assinado por Burle Marx em Recife na década de 1930, no qual ele utilizou espécies nativas da Amazônia, como pau-mulato (Calycophyllum spruceanum), açaí (Euterpe oleracea) e abricó-de-macaco (Couroupita guianensis), além de algumas espécies exóticas. Outro bom exemplo é a praça Salgado Filho (1947-1950), no Rio de Janeiro, onde Burle Marx destacou a diversidade e exuberância da flora nativa brasileira”, finaliza.

Texto Carolina Pera Fotos [1] Alessandro Guimarães, [2] Divulgação/Escritório Burle Marx, [3] Gustavo Xavier e [4] Tarso Figueira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima