Explore a biodiversidade das orquídeas brasileiras e os avanços da pesquisa científica para conservação e novos tratamentos.
Não é necessário ser especialista para perceber a riqueza da flora brasileira: ela se expressa em cada canto do país, onde menos se espera. Entretanto, o esforço de pesquisar, cuidar e ampliar o escopo relativo a esse meio passa, sim, por dentro das universidades, pelas mãos de quem, por vezes, dedica uma vida inteira a entender determinada espécie.
Para se ter uma ideia, das 30 mil orquídeas existentes, 2.600 estão em terras tupiniquins – sendo que o ser humano só é capaz de criar os híbridos, o que confere importância ainda mais notável a essa informação. “O Brasil é o quarto país com maior número de espécies nativas, ficando atrás apenas da Colômbia, Equador e Nova Guiné”, destaca Kathia Pivetta, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e presidente do Simpósio Brasileiro sobre Cultivo de Orquídeas (Simbraorq), que terá sua segunda edição de 3 a 6 de março de 2015. O evento reunirá especialistas de todo o país.
O potencial é evidente e pode ser trabalhado. A Holanda, por exemplo, é responsável por cerca de 50% da comercialização de flores no mundo, tendo esse setor como um dos pilares de sua economia, enquanto representamos apenas 1% do mercado. Por esses e outros motivos, há um esforço de pesquisa dentro das universidades brasileiras para que o interesse por orquídeas alcance outros patamares, beneficiando produtores e gerando empregos.
Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), há um banco de sementes para preservação das orquidáceas nativas desde 1997, com o objetivo de trabalhar os vários aspectos dessas plantas. Domesticação de espécies selvagens, estudos com substrato, adubação, reguladores, melhoramento genético e criopreservação integram o dia a dia da UEL, onde há cerca de 50 mil exemplares nos nove orquidários. “Temos, no Brasil, mais de 300 espécies e poucas são comercializadas por falta de domesticação, por exemplo”, ressalta o engenheiro agrônomo Ricardo Tadeu de Faria, professor do Departamento de Agronomia da universidade.
Todo esse trabalho tem rendido resultados. Em estudo feito pela UEL, junto à Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), identificou-se o potencial da espécie Miltonia flavescens para o tratamento do câncer de ovário, com medicação em fase de patenteamento, e da Oncidium baueri, para o combate ao câncer de pele e leucemia. Além disso, visando compartilhar o conhecimento desenvolvido, o orquidário tem atendimento à comunidade – que pode tirar dúvidas em relação ao cultivo –, comercializa espécies e promove cursos para angariar verba para a manutenção do espaço.
Atualmente, órgãos de fomento como FAPESP, CAPES e CNPq têm incentivado essas pesquisas, mas nem sempre foi assim. “Há pouco tempo, as pessoas viam as orquídeas como tema supérfluo”, relata Faria. No sentido de ampliar a troca de informações, especialistas de todo o Brasil passaram a se reunir, desde 2013, no Simbraorq, simpósio nacional relativo à família Orchidaceae. “O evento foi criado para exaltar essa cultura de grande importância para o setor da floricultura nacional e estreitar relações entre pesquisadores, empresas, produtores, colecionadores e estudantes”, considera Kathia, da Unesp.
Entre os desafios pela frente, por incrível que pareça, não está de forma preocupante o das mudanças climáticas – que interfere no período de floração, mas se mostra menos prejudicial do que outros problemas. “Extrativismo, queimada das matas e crescimento urbano são os maiores riscos. Algumas espécies nativas são extintas até mesmo antes de serem estudadas, como vários tipos de microorquídeas”, indica Faria. Quem sabe, com a disseminação sobre o potencial que o estudo de orquídeas representa em diversas esferas, esse quadro possa mudar nos próximos anos.
Fonte: Simbraorq
Texto Cristina Tavelin. Fotos Divulgação/Simbraorq