Orquídeas Extremamente Raras

Cattleya aclandiae tipo ‘Itaparica’

Explore as razões pelas quais certas orquídeas são consideradas raras, desde variações cromáticas até dificuldades de cultivo e preços elevados.

O conceito de raridade se aplica a qualquer coisa que seja pouco frequente ou incomum. No mundo orquidófilo, esse sentido é muito mais amplo. Um exemplar pode ter sido considerado singular há alguns anos e, atualmente, não ser mais; ou ser pouco conhecido em uma região do Brasil e, por isso, ser classificado como raro; espécies ou gêneros estrangeiros não comuns por aqui podem ser objetos de desejo pela dificuldade de importação ou mesmo de cultivo. “Algumas pessoas se lembram do problema em conseguir Vandacea há dez ou quinze anos. A Vanda coerulea era desejada por muitos e acessível a poucos”, exemplifica Cesar Cherem, orquidófilo, de Juiz de Fora, MG. Para ele, hoje, o termo raridade está bastante relacionado a variações cromáticas ou anomalias, como o trilabelismo, e obedece a um ciclo de produção e abastecimento, de maneira a fornecer ao mercado aquilo que está em falta. “Assim, a Cattleya amethystoglossa alba será considerada rara até que algum produtor faça milhares de exemplares, a partir de uma planta única, para suprir a demanda de mercado existente”, diz.

José Eustáquio Rangel de Queiroz, colecionador, de Campina Grande, PB, acredita que, dentre as razões para uma orquídea se tornar rara, destacam-se a dificuldade de ser encontrada devido à destruição do habitat, como acontece com Malaxis calophylla, originária do Vietnã, e Dendrophylax lindenii, que ocorre na Flórida; coleta desregrada por colecionadores e atravessadores, caso de Cattleya schilleriana e C. velutina, ambas nativas da Mata Atlântica; e ainda a complexidade de acesso ao habitat, por exemplo, Dracula simia, natural das selvas equatoriana e peruana. “Também há as espécies com necessidades e cuidados específicos, que tornam extraordinariamente desafiador seu cultivo, mesmo para colecionadores experientes, como Acacallis cyanea, a qual poucos orquidófilos e orquidólogos já viram, de fato, florida em coleções”, comenta.

Segundo Cherem, algumas brasileiras são consideradas raras por apresentarem cores incomuns, forma do colorido anormal, serem pouco expressivas ou ainda estarem em processo de extinção, já que são endêmicas e completamente dependentes do habitat, dificultando o cultivo fora dele. “As plantas alba, coerulea, rubra e vinicolor, de forma geral, são consideradas pouco vistas e muito desejáveis. Por exemplo, Laelia lundii coerulea, Sophronitis bicolor albina, C. bicolor coerulea, L. pumila e L. praestans alba e C. walkeriana vinicolor. Já C. luteola (da região Norte), C. dormaniana (do estado do Rio de Janeiro), C. porphyroglossa (dos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina) e C. kerri e C. tenuis (da Bahia) são pouco cultivadas por colecionadores”, elucida. Queiroz também aborda a singularidade relacionada à coloração, especialmente das alba, como Phalaenopsis amboinensis flava, e de algumas azuis-escuras ou negras, tonalidades de Cymbidium Kiwi Midnight ‘Geyserland’ e Fredclarkeara After Dark. Mas, a peculiaridade não se restringe apenas às espécies. Existem também híbridos considerados raros. “A diferença é que o mercado de híbridos atende a uma demanda muito dinâmica e obedece, em diversos casos, tendências e apelos de moda.

Desta maneira, produtores oferecem orquídeas ao mercado de modo contínuo, deixando para trás plantas consagradas em sua época, verdadeiras preciosidades orquidófilas que continuam tendo espaço em qualquer coleção. Bons exemplos são as alba C. Bow Bells e C. Francis TC Au, além de Laeliocattleya Floralia’s Triumph, Brasolaeliocattleya Luz Del Fuego ‘Ushuaia’, Sophrolaeliocattleya Falcon Alexander e Slc. Hazel Boyd. Não podemos esquecer das enormes Blc. Pastoral Aniel Carnier e Lc. Rolf Altenburg e da magnífica Lc. Jose Dias de Castro”, explica o especialista mineiro.

BOLSA DE VALORES

Para quem adora uma novidade e está sempre pronto para admirar algo raro, nada melhor do que visitar as exposições Brasil afora. Há sempre algum exemplar excepcional, seja pelo colorido, pela forma ou pela dificuldade de cultivo. Para Cherem, é exatamente isso que alimenta o mundo orquidófilo: o desejo de ter “aquela” planta especial. “Com relação a preços, o mercado obedece à milenar lei da oferta e procura. Quanto mais raro, mais caro. Exemplares únicos podem atingir facilmente os R$ 5 mil, como as formas alba de C. aclandiae, C. shilleriana ou L. pumila. Surpreendentemente, as C. walkeriana são bem cotadas há muitos anos. Existem cortes de plantas raras que podem atingir R$ 30 mil”, afirma. Para dar outro exemplo prático, o colecionador de Campina Grande fala sobre um exemplar de Bulbophyllum phalaenopsis com cinco pseudobulbos e folhas de cerca de 62 cm, que está sendo vendido em um orquidário comercial por R$ 4 mil. Também é possível adquiri-lo, no mesmo orquidário, com oito pseudobulbos e folhas de cerca de 65 cm, mas isso custará o dobro do preço. “A espécie é assim denominada não pelas similaridades florais, mas pela folhagem.

Trata-se de uma epífita de grande porte da Nova Guiné, de cuja inflorescência basal, curta e fasciculada, desabrocham flores fétidas”, esclarece. Muitos colecionadores não fazem clones de suas “queridinhas” exatamente para que não deixem de ser raras e, por isso, cobiçadas. Fazer cruzamentos dessas matrizes cria grande expectativa entre os orquidófilos que adquirem estes seedlings e alimenta novas gerações de plantas geneticamente superiores, já que diversos “filhos” conseguem superar a qualidade ou inovar o colorido da planta-mãe. Portanto, segundo Cherem, plantas chamadas únicas, em pouco tempo, são superadas e substituídas. Em relação aos híbridos, é comum fazer clones para abastecer o mercado de flores. “A facilidade de multiplicação através de laboratórios especializados ou mesmo processos caseiros aumenta a oferta para comercialização ou repovoamento de áreas replantadas, processo que tem sido a salvação para muitas espécies, já que em alguns casos não existem mais na natureza”, finaliza.

Texto Renata Putinatti Fotos [1] Daniel Mansur, [2] Evelyn Müller, [3] Patrícia Cardoso, [4] Samuel Alexandre e [5] Tatiana Vill

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