Plantas adequadas e soluções de drenagem.
Criar uma conexão visual entre os diversos níveis topográficos é o principal desafio ao se desenvolver um projeto paisagístico em terrenos íngremes, na opinião da paisagista Suzi Barreto, da Landscape Jardins, com escritórios no Rio de Janeiro, RJ, em Porto Alegre, RS, e no Vietnã. Há ainda o risco de parecer uma colcha de retalhos, além de a movimentação de terra prejudicar o desenvolvimento das plantas e até escolhas equivocadas das espécies para os taludes, que podem dificultar a manutenção.
“Primeiramente, realiza-se um levantamento detalhado, com curvas de nível e marcação de toda a vegetação existente e elementos edificados”, ensina o arquiteto paisagista Luiz Vieira, de Recife, PE. Na sequência, são definidos os talvegues naturais para preservar e direcionar a drenagem do terreno. Segundo ele, a distribuição dos equipamentos é feita de acordo com as declividades presentes para garantir o menor movimento de terra possível. “É importante evitar que a água da chuva crie valas ao descer pelo terreno”, alerta a paisagista.
Se forem necessários cortes no lote, que expõem uma camada de solo mais profunda e muito pobre em nutrientes, é recomendado pelos profissionais separar a parte superficial da terra, mais rica em minerais, para ser aproveitada nas áreas de plantio. Suzi sugere também a orientação de um engenheiro agrônomo para realizar a calagem e adubação adequadas para que o jardim não tenha problemas de crescimento.
“Normalmente, em grandes aclives e declives, as espécies devem ser plantadas ainda pequenas para que consigam, ao longo de seu desenvolvimento, se estabelecer no local”, comenta a paisagista da Landscape. Vieira explica que o plantio deve seguir padrões técnicos, com covas preparadas para reter água da chuva, e as placas de grama devem ser ancoradas com estacas, especialmente quando fixadas em taludes acidentados.
Para as regiões inclinadas, Suzi indica espécies de baixa manutenção, já que o acesso a elas é mais difícil. Agave (Agave americana), babosa (Aloe arborescens), bromélias (Bromeliaceae) e árvores de pequeno porte se desenvolvem com sucesso nessas condições. “As hortênsias (Hydrangea macrophylla) ajudam também a segurar o talude e colorem com sua bela florada no verão”, enfatiza a paisagista.
Para proporcionar um passeio agradável em meio às plantas, as circulações são facilitadas por escadas e rampas, seguindo as normas de acessibilidade. “Os degraus devem respeitar as medidas confortáveis de altura e profundidade e, se possível, incluir platôs para que a subida não seja cansativa”, conclui a paisagista. Nesses locais mais planos, podem-se dispor mesas e bancos sob frondosas árvores para desfrutar de momentos relaxantes, cheios de sombra e frescor.
BELEZA SUPERIOR
Em Itapecerica da Serra, SP, um dos principais desafios da equipe do escritório paulistano Saspadini & Schiavon Arquitetos Associados foi lidar com o terreno acidentado. Todos os espaços foram interligados por caminhos feitos com pedra São Tomé branca e deques de madeira cumaru. O passeio fica ainda mais charmoso ao observar espécies cultivadas em árvores, como chifre-de-veado (Platycerium bifurcatum) e diversos representantes de orquídeas (Orchidaceae) e bromélias (Bromeliaceae). Os espaços de convivência ao ar livre ficaram mais agradáveis com a composição formada por espécies de alturas diferentes. Plantas com forte apelo visual, como cicas (Cycas revoluta), dracena-dragão (Dracaena draco), palmeira-triângulo (Dypsis decaryi), pândano (Pandanus veitchii) e palmeira-garrafa (Hyophorbe lagenicaulis) foram selecionadas para dar mais destaque ao jardim.
UNIÃO SUPREMA
Em Araras, na região de Petrópolis, RJ, no projeto criado pela Landscape Jardins, o jardim integrou todo o terreno, que é acidentado e tem um rio que o divide em dois, e caminhos conectam pomar, horta, parquinho e piscina natural, entre outros recursos. Suzi explica que a região, formada por pequenos platôs e grandes taludes, precisou ser trabalhada para acertar os desníveis e suavizar os cortes. Com isso, foram dispostos vários espaços de estar para que a família usufruísse ao máximo da área externa. Há espaços de descanso e de convívio que recebem sol e sombra. “Procuramos vários motivos para que as pessoas passem a maior parte do tempo curtindo o jardim”, frisa Suzi. As apostas dos profissionais para embelezar com diferentes tons e volumes foram papiro (Cyperus giganteus), gengibre-concha (Alpinia zerumbet), filodendro (Philodendron sp.), hortênsias e russélia (Russelia equisetiformis), além de variedades de agaves.
LAZER ELEVADO
Em Gravatá, PE, a reforma deu novos ares ao entorno da morada, com o jardim projetado pelos profissionais do escritório Luiz Vieira Arquitetura de Paisagem, situado na capital pernambucana. “A racionalização do jardim, com agrupamentos de plantas de acordo com as necessidades de cada local, a disponibilidade de água para irrigação e o tipo de manutenção exigido são os diferenciais do projeto”. Para valorizar o amplo terreno e possibilitar momentos de lazer à família e aos convidados, Vieira criou uma piscina de concreto armado, elevada em palafitas, para evitar aterros sobre o terreno natural, deixando-a no mesmo nível do apoio, o que possibilitou uma borda infinita ideal para apreciar a paisagem. “No entorno da estrutura, foi elaborado um jardim mais intimista, com passeios e bancos para relaxar e apreciar as espécies com floração de cores variadas, que atraem beija-flores.” Destaque para a seleção feita para adornar os recantos: tapete de grama-esmeralda (Zoysia japonica), cópsia (Kopsia fruticosa), gengibre-concha (Alpinia zerumbet), palmeira-samambaia (Cycas circinalis), fórmio (Phormium tenax) e lírio-da-paz (Spathiphyllum wallisii). Os caminhos executados com pedras irregulares facilitam a circulação.
ALTIVEZ EM PATAMARES
O destaque da área verde em Campos de Jordão, SP, comandada pela engenheira agrônoma e paisagista Rosana Nejar, foi lidar com barrancos desestabilizados e construir barricadas com troncos de eucalipto para sustentação. Outro desafio foi o mau aproveitamento anterior do terreno, cujos desbarrancamentos resultaram da não captação de água da chuva e de cortes indevidos. Isso demandou a construção de canaletas e grelhas para escoamento de água pluvial e a delimitação de curvas de nível antes do plantio da grama. Ao projetar os caminhos, a profissional considerou também a inclinação do terreno. São dois caminhos decorativos, feitos com dormentes e seixos rolados, inseridos em um espaço com bancos, como uma pracinha. Rosana definiu espécies com florações em diferentes épocas para que o espaço estivesse sempre repleto de nuances de tons variados, como hortênsias, azaleias (Rhododendron simsii), amor-perfeito (Viola tricolor), petúnias (Petunia grandiflora) e vincas (Catharanthus roseus), além de beijo-turco (Impatiens walleriana) e cravinas (Dianthus chinensis).
Texto Janaina Silva. Fotos [1] Alessandro Guimarães, [2] Gui Morelli, [3] Leonardo Costa e [4] Tarso Figueira.