Catasetum: O Fascínio das Orquídeas com Flores Masculinas e Femininas

Ctsm. fimbriatum Egel

Explore o fascinante universo das orquídeas Catasetum, conhecidas por suas flores únicas. Aprenda como cultivá-las e obter floradas deslumbrantes.

O gênero Catasetum talvez seja o mais intrigante da família Orchidaceae. Conta com mais de cem espécies, que se espalham pelas matas da América Tropical e, normalmente, apresentam três tipos de flores: masculinas, femininas e hermafroditas. “Começa aqui o fascínio pelo gênero. Os exemplares podem produzir os três tipos em uma única haste floral. Isso porque as estruturas reprodutivas, como as polínias, estão na flor masculina. Esta é sempre mais colorida, com elementos atraentes como pelos e cílios, que se diferenciam muito de espécie para espécie. É em função desses tons e estruturas que a planta é identificada. A flor feminina assemelha-se sempre a um capacete em tons de verde, creme e amarelo-claro, variando de tamanho conforme a espécie”, relata a bióloga e orquidóloga Apolônia Grade, de Alta Floresta, MT.

Descrito pela primeira vez em 1822 pelo botânico alemão Karl Sigismund Kunth, o gênero reúne plantas que são consideradas umas das mais evoluídas do Reino Vegetal pela existência de órgãos masculinos e femininos separados. “A luminosidade é a responsável pelo aparecimento de flores de sexos diferentes. Quando recebem mais luz, produzem femininas. Se há pouca luz, geram masculinas”, destaca Luciano Henrique Ramalho, diretor-técnico do Orquidófilos Associados do Rio de Janeiro (OrquidaRio), da capital fluminense.

Orquídeas com folhas membranosas possuem inflorescências formadas a partir das gemas dos nós nas laterais dos pseudobulbos carnosos e suculentos. “As desejadas pelos cultivadores são as flores masculinas, pelo formato curioso e cores pouco usuais, como marrom, caramelo, púrpura e verde. As flores femininas são procuradas pelos produtores porque serão polinizadas, gerando as sementes das novas plantas”, ressalta Apolônia. Em geral, as flores do Catasetum duram entre sete e 15 dias. De acordo com a especialista, após 72 horas as estruturas reprodutivas estão maduras e exalam forte perfume para atrair polinizadores. “As flores femininas atraem um exército deles, que as disputam de forma voraz, chegando a promover choques aéreos para conseguir acesso ao néctar. Essa guerra é realizada à primeira luz da manhã pelas abelhas Euglossa (conhecidas como mamangavas), que duelam entre si para garantir o alimento”, informa.

Nas flores masculinas, o acesso ao néctar é protegido pelo mecanismo de disparo, uma alavanca posicionada estrategicamente em frente ao cálice do labelo. É impossível acessar o alimento sem esbarrar na alavanca. A mucilagem (secreção rica em carboidratos) se encarrega de colar firmemente a polínia retirada da flor no tórax da abelha. Uma vez aderida, se soltará no movimento de “vai-e-vem” na abertura que dá acesso ao ovário da flor. “Se as abelhas tiverem acesso à polínia, no dia seguinte a flor estará murcha e cairá em 48 horas. Enquanto muitos cultivadores procuram ‘esconder’ suas plantas das mamangavas, outros facilitam o acesso, até mesmo por apreciar o intenso trabalho delas. É comum ouvirmos o termo ‘carnívora’ para as orquídeas do gênero Catasetum, por acreditarem que elas, de alguma forma, alimentam-se das abelhas. Outra curiosidade é o disparo das polínias. Os leigos costumam dizer: ‘encostei na flor e ela cuspiu algo que grudou em mim’”, conta Apolônia.

COMO CUIDAR?

Para ter sucesso no cultivo de exemplares de Catasetum, é preciso respeitar suas preferências. De acordo com a especialista de Alta Floresta, eles apreciam ambientes com boa ventilação, luminosidade, além de demandarem regas abundantes no período após a brotação e estresse hídrico ou diminuição de regas no período de dormência. “Sombreamento médio de 70% induz belas floradas com flores masculinas. Plantas bem nutridas podem apresentar até seis hastes por florada. Conseguimos as femininas quando a luminosidade é mantida em mais de 50%, resultando em hastes carregadas com média de três a quatro unidades cada”, detalha a orquidóloga e bióloga, acrescentando que os Catasetum jamais devem ser cultivados sobre bancadas, para não acumular água nas folhas e facilitar o aparecimento de fungos.

Ramalho reforça que essas plantas não suportam substratos encharcados, por isso indica materiais como casca de pinus, esfagno, fibra de coco e carvão vegetal, que não retêm água. Elas podem ser cultivadas em vasos de plástico, no entanto, o melhor recipiente, segundo os especialistas, é a garrafa PET. “Corte-a ao meio, deixe o fundo como reservatório de água, fazendo pequenos furos para drenagem nas laterais a 4 ou 5 cm acima, e preencha com pedra brita ou cacos de cerâmica”, ensina Apolônia. Mantenha-os sempre suspensos no orquidário.

Para garantir boas floradas, invista na adubação. Quando os brotos começarem a surgir, aplique no canto do vaso uma colher (de chá) de fertilizante balanceado de liberação lenta (NPK 14-14-14 mais micronutrientes). É também no início da brotação, quando as raízes estão fortes, que os replantes devem ser realizados.

SEMPRE ALERTA

Ctsm. Everana Grade
Previna problemas com doenças e pragas oferecendo aos Catasetum ambientes ventilados e com luminosidade e adubação adequadas. Locais abafados ou excessivamente úmidos facilitam o aparecimento de fungos, ácaros e cochonilhas.

Ramalho explica que há dois tipos de fungos: os que atacam as folhas e podem ser combatidos com fungicidas de contato indicados por um engenheiro agrônomo, e os que acometem os bulbos. “No segundo caso, é preciso fazer um corte na parte infectada e aplicar um fungicida sistêmico. Se o bulbo inteiro estiver apodrecido, é melhor retirar a planta do vaso, cortar a estrutura infectada e replantá-la”, aconselha.

Os ácaros sugam as folhas de forma tão agressiva que podem provocar a morte dos exemplares. Neste caso, é melhor aplicar um acaricida sistêmico preventivamente.

Assim como outros agentes nocivos, as cochonilhas precisam ser combatidas logo no início da infestação. “Há dois tipos: a lanosa, que se deposita por baixo e na bainha das folhas, e a cerosa, mais difícil de deter, pois os inseticidas comuns geralmente não provocam a sua morte. Em razão disso, é melhor usar um produto sistêmico”, informa o especialista do OrquidaRio.

SUPER DESEJADOS

Dentre as dezenas de espécies de Catasetum, Apolônia destaca o Ctsm. pileatum. “Natural da Amazônia, é irresistível até mesmo para o mais conservador orquidófilo, porque tem flores espetaculares, que parecem elaboradas em biscuit! Os híbridos originados a partir deste ícone das catasetíneas, como Ctsm. Suzan Fuchs e Ctsm. João Stivalli, são vistosos e estão na lista dos desejos de todo amante de orquídeas”, exclama.

O diretor-técnico do OrquidaRio frisa também a beleza e o delicioso aroma das inflorescências do Ctsm. fimbriatum. “A pequena duração das flores é compensada por até quatro hastes carregadas. Já tive plantas com mais de 40 unidades”, informa, ressaltando a importância das sociedades orquidófilas na difusão do gênero, que ainda não é muito popular nas exposições de orquídeas.

Texto Paula Andrade

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