Descubra como adaptar orquídeas ao pleno, aprenda sobre espécies resistentes, ajustes necessários e técnicas para otimizar a fotossíntese e a saúde das suas plantas.
A maioria das orquídeas vegeta à meia-sombra. Entretanto, existem espécies com maior necessidade de luz. É o caso das heliófilas, que crescem a pleno sol. A mais conhecida é Arundina graminifolia (a orquídea-bambu), mas são várias as que precisam do elemento em abundância para sobreviver, como exemplares dos gêneros Papilionanthe, Brassavola, Renanthera, Bifrenaria, Sophronitis, Dendrobium e Bletia.
“Outros exemplos são as orquídeas europeias, em especial Orchis, Ophrys, Aceras e Anacamptis, plantas terrestres que crescem em locais secos”, conta José René Rocha, orquidólogo e orquidófilo, de Areado, MG. Também é possível encontrar Phalaenopsis vegetando em coqueiros a pleno sol em regiões praianas, com as folhas amareladas, mas em condições saudáveis de cultivo e florada. “Provavelmente são clones híbridos entre espécies advindas de locais mais ensolarados e exemplos de perfeita adaptação deste gênero, notadamente de médio sol”, explica o especialista.

ADAPTADAS PARA SOBREVIVÊNCIA
“Não adianta adubar, irrigar e propiciar bastante luz se a planta não possui potencial genético com mecanismos de adaptação para processar esses recursos disponíveis”, conta Rocha. As espécies que vegetam a pleno sol sofreram adaptações fundamentais para sua sobrevivência. Para manter o balanço hídrico, aconteceram mudanças xerofíticas, como as raízes que ficaram mais grossas e de velame mais extenso; os pseudobulbos também engrossaram ou se tornaram longos e fusiformes para reserva de amido e água nas folhas carnosas ou fibrosas. Além disso, o aparecimento de grande número de raízes, rizomas e pseudobulbos permitiram que material orgânico se acumulasse entre eles, possibilitando a formação do húmus e garantindo o suprimento de minerais e umidade.

O tipo de realização fotossintética é uma adaptação importante que muitas orquídeas epífitas e rupícolas apresentam. “As que apresentam o ciclo CAM (Metabolismo Ácido das Crassuláceas) – plantas típicas de desertos e regiões semiáridas: Cactaceae, Euphorbiaceae e Asclepiadaceae – fecham os estômatos de dia e abrem apenas à noite, período em que o ar tem menor capacidade de retirar água, diminuindo a evapotranspiração e o desperdício. Já as plantas de ciclo C3 murcham as folhas nas horas mais secas e ensolaradas para se reidratarem quando está mais fresco e úmido, com um regime de perda e ganho de água nas folhas, sendo pouco econômicas e mais dependentes de umidade no solo ou no seu substrato do que as de ciclo CAM, que conseguem sobreviver até muitos meses sem uma única gota de chuva em regiões de seca”, compara Rocha.

As folhas grandes e planas são vantajosas na captação de luz quando o fornecimento é mais restrito, mas inconvenientes em épocas secas, pois a superfície de evapotranspiração é muito grande. Por outro lado, folhas menores têm área pequena de exposição à luz solar, o que é benéfico em ambientes ensolarados e secos. “No geral, uma mesma espécie heliófila cultivada por muitos anos a pleno sol tende a possuir folhas menores, mais atrapalhadas e em ângulo mais fechado se comparada a uma mantida em sombreamento. Não é um padrão decisivo, existem outros fatores a serem considerados”, detalha o orquidófilo e orquidólogo.
CUIDADOS NA HORA DA TRANSIÇÃO
Levar a orquídea que vive protegida no orquidário para áreas a pleno sol exige uma série de cuidados. É um processo lento, que demanda paciência. “O período de aclimatação quase sempre é muito crítico. A planta será submetida ao estresse hídrico, à diferença de luminosidade e aos riscos de infecções por bactérias e fungos (em razão do enfraquecimento de suas defesas)”, detalha Rocha.

Durante a fase de aclimatação, nos meses ensolarados, deve-se proteger as plantas da ação direta do sol com telas de sombreamento para evitar a queima das folhas. Outra dica é mantê-las limpas de poeira e, se necessário, utilizar iluminação artificial na impossibilidade da luz natural. É importante ressaltar que a maior incidência de luz solar no orquidário exige aumento proporcional da umidade relativa do ar e da ventilação. A própria orquídea pode ser usada como indicador de luminosidade adequada. “Se insuficientemente iluminada, apresenta folhas com coloração verde-escura e se a iluminação estiver correta, elas adquirem o tom verde-claro e brilhante”, alerta o especialista.
Depois que a cor verde-clara se estabelecer, coloque a planta a pleno sol. Ainda assim, se houver necessidade, deve protegê-la com tela de 30% durante os períodos mais quentes até observar que suas folhas não estejam queimadas. Quando isso acontecer, é um sinal de que a planta está se acostumando. “Afirmar que devemos oferecer tanto quanto possível de luz nem sempre é correto. Posso dizer que quanto mais horas de luz adequadamente filtrada oferecermos às orquídeas, melhor o resultado fotossintético”, esclarece.
Não é toda planta que aguenta o processo. As que se adaptarão mais facilmente a pleno sol são a maioria das Coelogynes; Cymbidium, Dendrobium nobile e seus híbridos; Brassavola; as Cattleya nobilior, C. walkeriana, C. warscewiczii; as Laelia lobata e L. purpurata; as Vanda; os Ascocentrum e Aerides e a maioria dos seus híbridos; e quase todas as Laelia mexicanas. As que não suportam o processo, em hipótese nenhuma, são as umbrófilas (endêmicas de locais sombrios e úmidos) e a maioria das micro-orquídeas, como as Masdevallia; além dos Paphiopedilum niveum, Paph. villosum e seus híbridos; a maioria das Cattleya bifoliadas e de pseudobulbos finos e longos e suas híbridas.

DICAS ESPECIAIS
No geral, quanto mais luz, mais ventilação e umidade a planta necessitará. Se suas folhas se adaptarem sem queimas, pode-se aumentar a frequência na adubação. Antes de adquirir uma espécie que vegete a pleno sol, o profissional aconselha que se estude e avalie a possibilidade de contar com luz solar incidente o ano inteiro no local de cultivo e com máximo de horas por dia de incidência. Vale observar que ao receber mais sol o tom da folha pode sofrer modificações: para amarelo-claro ou surgir colorações avermelhadas ou arroxeadas pela ativação de antocianinas em orquídeas de flores roxas ou vermelhas, que servirão como barreira de bronzeamento, assim como acontece na ativação da melanina em nossa pele como resposta protetora aos raios solares mais intensos.
Texto Alexandra Iarussi Fotos Daniel Mansur, Daniel Sorrentino, Evelyn Müller e Tatiana Villa
Deixe um comentário