Conheça as Espécies de Coelogyne e Seu Cultivo

Coel. ovalis

Aprenda sobre as variedades de Coelogyne e cuidados essenciais

Nativas do sul e sudeste da Ásia e das ilhas do sudoeste do Oceano Pacífico, as 190 espécies de Coelogyne são encontradas em habitats diversificados, que vão desde áreas ao nível do mar até superiores a 3 mil m de altitude. Também ocorrem em regiões de climas variados, como quente, intermediário, frio, seco e úmido, além de florestas luminosas e sombrias.

Segundo o orquidófilo Alcino Ribeiro Fraga, proprietário do Orquidário que leva seu nome, de Juiz de Fora, MG, 45% das espécies são encontradas em Bornéu, 37% no Tibete, Nepal, Butão, norte da Índia, Birmânia e sul da China, e 18% em Sumatra. “O restante aparece no sul da Índia, Tailândia, Malásia, Filipinas, Nova Guiné, entre outras regiões”, esclarece.

Embora a maioria das Coelogyne seja epífita, os hábitos vegetativos não seguem um padrão, mudando conforme a variedade e o local de dispersão. “As que vivem em locais frios e de baixa luminosidade, geralmente, são epífitas de folhas largas para captar toda a luz necessária, como Coel. mayeriana. Há as que preferem climas secos e úmidos no decorrer do ano, com estações frias determinadas, por exemplo, Coel. flaccida e Coel. cristata. Algumas são encontradas em regiões muito mais frias, como é o caso da Coel. mooreana”, afirma Mariana Gabriela de Nadai, bióloga do Orquidário Bom Senhor, de Arealva, SP. Ela acrescenta que existem espécies que podem assumir hábitos diferentes, como é o caso da Coel. lawrenceana e Coel. pandurata, que são encontradas em árvores perto de rios e também no solo.

Coel. miniata

Coel. speciosa

Coel. cristata

MORFOLOGIA


Crescimento simpodial, entouceiramento, labelo livre e com pelos são características presentes em todas as espécies do grupo. “Apresenta três lobos laterais eretos e localizados ao lado da coluna. O lobo frontal sempre é mais aparente e possui calosidades, verrugas ou lamelas”, comenta Mariana.

Já os outros aspectos morfológicos são bastante variados; por exemplo, Coel. fimbriata e Coel. miniata medem cerca de 20 cm, enquanto Coel. pandurata e a Coel. barbata passam dos 50 cm de altura. Algumas apresentam enormes cachos de inflorescências, outras poucas flores. Os pseudobulbos são distintos em formas (ovoides, cônicos, fusiformes ou cilíndricos), tamanhos (de 3 a 20 cm de comprimento) e cores, portando uma ou duas folhas.

Segundo Fraga, as folhas são rígidas, de longa duração, mas podem ser estreitas, largas, curtas ou longas. Já as raízes são delgadas, com comprimento variável, adjacentes ao bulbo e ao rizoma. “A coluna é curta ou longa, geralmente uniforme e, às vezes, arqueada para frente. A antera é ventral no ápice da coluna e com quatro políneas”, detalha.

A floração se concentra entre os meses de maio e outubro, mas existem variedades que desabrocham em outros períodos, como Coel. mooreana e Coel. speciosa, típicas do verão. As flores permanecem abertas de 15 a 40 dias, com exceção de algumas que não passam de uma semana, e podem abrir simultaneamente ou em sucessão rápida durante meses. O número de flores varia de duas por haste a cachos com mais de dez unidades. Também diferem quanto ao tamanho e aspecto, podendo ser grandes ou pequenas e carnudas ou membranosas.

A bióloga do Orquidário Bom Senhor diz que as flores de Coel. mayeriana são arqueadas, as de Coel. pulchella são eretas e as de Coel. flaccida são pendentes. Tons creme e branco com labelo destacado por cores escuras são as mais comuns, porém, também são frequentemente vistas flores com nuances de amarelo, salmão, marrom, verde e vermelho.

O especialista mineiro adiciona que algumas espécies são perfumadas, exalando aromas de coco queimado (Coel. punctulata), gengibre (Coel. multiflora), mel e especiarias (Coel. tomentosa) e mel (Coel. flaccida).

Coel. bilamellata

Coel. trinervis ‘Vietna

Coel. fimbriata

ACERTE NO TRATO


No Brasil, as Coelogyne se desenvolvem melhor entre 15°C e 30°C, embora algumas espécies suportem temperaturas mais altas desde que devidamente hidratadas. Por serem, em sua maioria, de florestas tropicais, exigem alta umidade do ar. Também demandam bastante rega, exceto no inverno, quando deve ser reduzida.

Quanto à luminosidade, existe variação conforme o habitat. Coel. flaccida tolera luz solar direta, enquanto Coel. cristata e Coel. lawrenciana necessitam de sombreamento de 50% e Coel. mooreana não deve receber mais do que 30% de iluminação. “É um gênero composto por 190 espécies e 12 variedades, destas, 64 plantas são mais facilmente cultiváveis em território brasileiro. O restante necessitaria de estufas devidamente climatizadas”, alerta Fraga.

A especialista do interior paulista afirma que o cultivo do gênero não é segredo para os orquidófilos, já que não são plantas exigentes. O problema está apenas no porte dos exemplares que formam grandes touceiras e ocupam muito espaço nos orquidários. Para obter sucesso, ela recomenda pesquisar sobre o habitat da espécie e tentar oferecer as mesmas condições. “Devido à variedade enorme, sempre haverá aquela que se adapta melhor a um local ou outro. No entanto, um fator é certo: a grande maioria exige luz em abundância para florescer.”

Para ajudar, Mariana resume as necessidades de algumas espécies. Coel. parishii, Coel. tomentosa, Coel. fimbriata e Coel. flaccida apreciam clima quente e são cultivadas facilmente no Brasil. As únicas ressalvas são quanto ao espaço que ocupam e à uniformidade da rega ao longo do ano.

Coel. cristata, Coel. lawrenceana e Coel. nitida são ótimas para locais de clima intermediário. Para não errar nos tratos culturais, o segredo está em, após a floração, molhar com frequência durante os próximos quatro meses e ir diminuindo aos poucos até chegar ao inverno, quando apresentam baixíssima necessidade hídrica. 

Por ser um gênero que demanda bastante umidade, o substrato precisa reter líquido ao mesmo tempo em que mantém as raízes arejadas. Por isso, o orquidófilo mineiro aconselha fazer uma mistura de esfagno e compostagem de casca de pinus número 1 ou casca dura de coco. Para as rupículas, como Coel. mossiae, é importante acrescentar um pouco de pedrisco. A bióloga ressalta que as Coelogyne gostam de substratos antigos porque a acidez é maior e vão muito bem em cachepôs de madeira. “Elas odeiam ser replantadas. Quando isso acontece, podem demorar até dois anos para voltar a florescer”, frisa.

A nutrição é simples; basta aplicar adubo químico de manutenção NPK 20-20-20 semanalmente. Quando tiver início a brotação, acrescente o adubo orgânico bokashi ou torta de mamona enriquecida a cada 20 dias.

É essencial assegurar todas as condições de cultivo mencionadas para que a planta tenha desenvolvimento adequado. Caso isso não ocorra, pode acontecer o ataque de pragas, como cochonilhas, lesmas e caramujos, além de bactérias e fungos – em especial o causador da antracnose.

Para Fraga, uma das dificuldades é o cultivo desse gênero em lugares com temperaturas muito elevadas, o que pode ser resolvido colocando pratos de areia umedecida sob a planta. Outro aspecto é o entouceiramento rápido das plantas, fazendo com que o colecionador tenha que dividi-las com frequência, levando ao aumento do número de vasos.

Mariana adverte que as Coelogyne não gostam de ser replantadas, então, só devem passar pelo procedimento caso seja extremamente necessário. É melhor fazê-lo entre os meses em que ocorre o período vegetativo, ou seja, quando estão emitindo raízes novas. “Deixe, no mínimo, quatro ou cinco bulbos em cada muda, com cuidado para não quebrar as raízes novas”, alerta.

Coel. Catarine

Coel. barbata

Coel. lawrenceana

EM ALTA


As Coelogyne não chegam a ser as queridinhas dos brasileiros, mas estão ganhando espaço nos orquidários de todo o país. “A aceitação está em ascensão. Ainda são pouco cultivadas talvez por falta de conhecimento e pouca divulgação. As mais comuns são Coel. flaccida, Coel. lawrenciana, Coel. cristata, Coel. fimbriata e Coel. pandurata”, comenta o proprietário do Orquidário Alcino Fraga.

Para ele, o gênero é procurado por colecionadores que se empenham para vencer as dificuldades de cultivo e querem plantas com excelente crescimento vegetativo e inflorescências abundantes com harmonia de cores.

Mariana acredita que a Coel. cristata seja uma das preferidas comercialmente por causa das numerosas flores brancas que se destacam com a mancha amarela do labelo. A Coel. pandurata possui porte robusto e flores grandes com perfume de mel, além da cor negra do labelo realçar em meio ao creme das pétalas e sépalas. Já a Coel. ovalis tem flores medianas e a Coel. lawrenceana apresenta crescimento rápido e pode florescer até duas vezes ao ano.

Fraga adiciona à lista de prediletas dos colecionadores Coel. testacea e Coel. tomentosa pelos belos cachos florais, Coel. mooreana, pelas grandes flores brancas com labelo amarelo, e Coel. miniata, com microflores vermelhas.

CRUZAMENTOS


As Coelogyne são facilmente cruzadas; no entanto, se comparadas a outros gêneros, há poucos híbridos – somente cerca de 40 registrados na Royal Horticultural Society. Também não há conhecimento sobre híbridos naturais envolvendo espécies deste grupo.

Entre os cruzamentos mais famosos estão Coel. Intermedia (Coel. cristata x Coel. tomentosa), Coel. Brymeriana (Coel. asperata x Coel. pulverula), Coel. Unchained Melody (Coel. cristata x Coel. flaccida), Coel. Linda Buckley (Coel. mooreana x Coel. cristata), Coel. South Carolina (Coel. pandurata x Coel. Burfordiense) e Coel. Burfordiense (Coel. asperata x Coel. pandurata), Coel. Colmani (Coel. cristata x Coel. speciosa), Coel. Shibata (Coel. flaccida x Coel. speciosa) e Coel. Memoria W. Micholitz (Coel. lawrenciana x Coel. mooreana). 

Devido às mudanças na classificação das orquídeas levando em consideração a filogenia, muitas Coelogyne conhecidas mudaram de espécie e até mesmo de gênero. Na reportagem, foi usada a nomenclatura antiga, mais comumente conhecida entre os orquidófilos. As plantas reclassificadas são Coel. ovalis (agora Broughtonia linearis), Coel. fimbriata (atual Coel. arunachalensis), Coel. tomentosa (hoje Coel. cymbidioides), Coel. lawrenceana (rebatizada de Coel. fleuryi), Coel. pandurata (agora Coel. peltastes var. unguiculata), Coel. flaccida (atual Pleione flaccida), Coel. testacea (renomeada de Coel. sumatrana) e Coel. parishii (chamada de Pleione parishii).

DISPERSÃO


Conheça as características climáticas das regiões asiáticas que compõem os cinco principais habitats das espécies de Coelogyne.

Florestas perenes litorâneas úmidas (até 1.500 m de altitude): Apresentam temperaturas uniformes ao longo do ano, em torno de 24°C a 30°C, precipitação anual superior a 2 mil mm e baixa luminosidade. Ocorrência de Coel. mayeriana.

Florestas tropicais de monções (de 900 a 1.500 m de altitude): São amplamente distribuídas na Ásia (sul, sudeste e leste); o clima é sazonal seco com diferentes graus de escassez de água, e a média anual de chuva varia de 200 a 20 mil mm. Há alterações acentuadas na temperatura. Ocorrência de Coel. cristata, Coel. flaccida e Coel. nitida.

Florestas tropicais de altitude (de 900 a 1.800 m de altitude): Presente em três grandes ilhas do Pacífico (Bornéu, Sumatra e Java), o clima é semelhante ao encontrado nas florestas perenes, mas com temperaturas médias caindo com o aumento da altitude. Ocorrência de Coel. tomentosa.

Florestas tropicais de altitude (de 1.800 a 2.900 m de altitude): São encontradas em partes da China, Bornéu e Sumatra, caracterizadas por temperaturas mais frias. Ocorrência de Coel. mooreana.

Florestas tropicais sub-alpinas (acima de 2.900 m de altitude): Localizadas em Bornéu, possuem solos rasos com uma fina camada de húmus, ou seja, pouco propício às orquídeas. Ocorrência de Coel. papillosa acima de 3.000 m, no Monte Kinabalu.

Fonte: Alcino Ribeiro Fraga, proprietário do Orquidário Alcino Fraga e colecionador de Coelogyne há 20 anos.

 Texto Renata Putinatti

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