Bulb. odoratissimum
Descubra as peculiaridades e cuidados essenciais para cultivar as fascinantes orquídeas Bulbophyllum em seu jardim.
Considerado o maior gênero da família Orchidaceae, com cerca de 2 mil espécies, os Bulbophyllum são lembrados pelas flores pequeninas de formato inusitado. Descrito pela primeira vez em 1838 pelo botânico francês Louis Marie Du Petit-Thouars, ocorre somente em regiões tropicais.
A distribuição não é homogênea e a maioria dos representantes é endêmica da Ásia, com grande concentração na Nova Guiné e Malásia. No Brasil, são encontrados principalmente em áreas de Cerrado (entre a fronteira dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais à Chapada Diamantina, na região central baiana) e Mata Atlântica (do norte de São Paulo ao sul da Bahia). São poucas as espécies oriundas do Semiárido e da Amazônia. Atualmente, há em torno de 50 Bulbophyllum brasileiros reconhecidos.
Com crescimento simpodial, são em sua imensa maioria epífitas, embora também existam as rupícolas. As primeiras têm rizoma bastante longo, deixando os pseudobulbos bem espaçados, ao passo que as outras normalmente crescem lateralmente formando touceiras. Em geral, apresentam apenas uma folha por pseudobulbo.
“As flores variam de poucos milímetros a 30 cm de comprimento. A maioria não possui perfume, algumas, porém, exalam forte odor de material em decomposição e poucas têm aroma levemente doce. Contam com três sépalas, mas algumas espécies possuem as sépalas laterais unidas. As pétalas variam bastante em cores, texturas e formas. O labelo é fixo nas flores por apenas uma fina estrutura, tornando-os móveis com um leve vento, atraindo insetos polinizadores”, descreve Eric de Camargo Smidt, doutor em botânica e professor-adjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR), de Curitiba, PR.
O Bulbophyllum fletcherianum é famoso por emitir fortíssimo odor de carne podre, e algumas espécies asiáticas, como Bulbophyllum echinolabium, Bulbophyllum foetidum e Bulbophyllum foetidolens, também contam com flores de cheiro desagradável. O odor atrai os polinizadores, que, neste caso, são moscas varejeiras.
“Sendo um dos maiores gêneros do Reino Vegetal, existem plantas que não passam de alguns milímetros a outras com folhas com 1 m de comprimento. Em relação às flores, a maioria das espécies de orquídeas é polinizada por abelhas, mas os Bulbophyllum são polinizados por moscas, que são atraídas pelo visual das flores escuras com máculas vináceas e com partes florais que se movimentam com uma leve brisa ou pelo odor. Na natureza, é o único caso bem estudado em que o vento auxilia na polinização, o que é muito interessante”, relata Smidt.
De acordo com o orquidófilo Geraldo Monteiro dos Santos, da capital paulista, a duração das floradas varia muito, de um a 20 dias. O número de flores por haste também depende da espécie. “Algumas apresentam 30 e outras somente uma. Normalmente, florescem uma vez por ano”, acrescenta. De maneira geral, estas plantas costumam colorir o orquidário de novembro a fevereiro.
Tratos Culturais
Por tratar-se de um gênero extenso, é sempre recomendável conhecer melhor a espécie de Bulbophyllum que está sendo levada para casa. Entretanto, como são plantas oriundas de países tropicais, não costumam ser muito exigentes.
“Com as epífitas não há dificuldades. O problema está com as rupícolas, pois produzem poucas raízes e acabam definhando com o tempo. As primeiras gostam de pouca luz direta, já as rupícolas apreciam bastante luminosidade”, informa o doutor em botânica e professor-adjunto da UFPR. Ainda de acordo com o especialista, os Bulbophyllum que vegetam sobre as rochas preferem solos bem drenados, com brita e esfagno. As espécies que originalmente se desenvolvem sobre as árvores se adaptam praticamente a todos os substratos. O orquidófilo de São Paulo elenca casca de peroba, musgo, casca de pinus com carvão e pedra britada e isopor. “Tenho usado atualmente esfagno e as plantas apresentam ótimo desenvolvimento”, diz Santos. Elas também podem ser fixadas diretamente nos troncos ou galhos de arbóreas.
Com relação aos vasos, as melhores opções são os de plástico ou cerâmica (desde que rasos e com furos laterais). Placas de madeira também são bem-vindas para as espécies com rizomas longos entre os pseudobulbos.
Normalmente, estas plantas necessitam de ambientes bem ventilados com umidade em torno de 60% e temperaturas entre 10 e 35ºC. As regas devem ser feitas apenas quando o substrato estiver totalmente seco. Vale lembrar que os vasos devem ficar distantes uns dos outros para não dificultar a circulação de ar e propiciar o aparecimento de pragas e doenças.
Quando há excesso de irrigação e falta de ventilação, Smidt alerta para o ataque de pulgões. “Ao primeiro sinal destes insetos, utilize uma esponja macia com água e sabão de coco para removê-los manualmente. Somente em casos de infestação intensa, utilize produtos químicos.”
A adubação adequada ajuda a manter os patógenos bem longe. “Adube uma vez por semana e reduza o uso durante o inverno. Aplique os fertilizantes conforme indicação do fabricante, sempre de manhã ou no final da tarde, evitando pulverizar sobre botões e flores e sob a incidência de raios solares, que podem queimar as plantas”, explica Santos.
O orquidófilo ressalta ainda que os replantes devem ser feitos de janeiro a dezembro, somente quando a planta emitir raízes e brotos. “Tome muito cuidado com os mesmos, evitando quebrá-los e colocando-os em um novo vaso maior.”
Peculiaridades
Os Bulbophyllum ainda não são tão populares entre os orquidófilos brasileiros. Segundo Smidt, juntamente com os Phragmipedium, estão entre as orquídeas mais caras. “O gênero ainda é pouco explorado comercialmente, mas a espécie brasileira Bulbophyllum weddellii é muito interessante pelas flores grandes com labelo móvel. Entre as estrangeiras, temos espécies bem valiosas, como Bulbophyllum fletcherianum, da Nova Guiné, com folhas de quase 1 m, além do Bulbophyllum rothschildianum, com inflorescência umbelada e sépalas compridas, e Bulbophyllum falcatum, com floradas em forma de fita”, relata o especialista da UFPR.
Bulbophyllum lobbii, Bulbophyllum medusae e Bulbophyllum vaginatum são outras espécies exóticas bastante cultivadas por aqui. “Até pouco tempo, estas plantas tinham aceitação limitada por serem desconhecidas e difíceis de encontrar. Hoje, temos uma série de colecionadores que as procuram e um número grande de exemplares produzidos em laboratório, com colorido intenso e formas espetaculares”, informa Santos.
Nos últimos anos, novos representantes do grupo têm sido descobertos em território nacional, caso dos Bulbophyllum gehrtii e Bulbophyllum teimosense, mas como a maioria deles é endêmica de um único bioma ou região, muitos correm risco de extinção. “Vivemos em uma época em que estudar as plantas nunca foi tão estimulante, mas, ao mesmo tempo, nos deparamos com a destruição rápida de vários habitats e, com isso, estamos perdendo espécies sem ao menos conhecê-las, o que é muito triste também”, conclui Smidt.
Texto Paula Andrade